Identidade (2021), dirigido por Rebecca Hall e adaptado da peça de teatro “Passing”, é um drama político-existencial, recém lançado na Netflix. Com uma potente direção e visão artística, o longa-metragem remonta a problemática do preconceito racial, em Nova York, na década de 1920.
O filme retrata a vida de Irene Redfield (Tessa Thompson), uma moradora do Harlem – bairro majoritariamente negro em NY. Ela é casada com Brian (André Holland) com quem tem dois filhos adolescentes. Durante um passeio por um bairro central de elite branca, Irene reencontra uma antiga amiga, Clare Kendry (Ruth Negga) que é casada com um homem branco, extremamente racista e preconceituoso.
A trama se desenrola a partir do momento que Irene descobre que sua amiga se passa por uma mulher branca. Daí o título original do filme: “Passing”. O termo faz referência ao conceito de passabilidade, isto é, a forma como uma pessoa de determinado grupo identitário consegue, a partir de certa construção material e simbólica do seu corpo, gestualidade, voz, etc. ser lida como pertencente a outro grupo social que não o seu próprio. Tanto Irene quanto Claire são lidas, em determinados momentos, como mulheres brancas.
O filme também demonstra como a identidade é relacional e também uma construção. Cada um de nós assume determinada posição social ou identidade em relação aos contextos e ambientes em que vivemos. É o que Stuart Hall, teórico cultural e sociólogo britânico-jamaicano nos mostra em diversos de seus textos.
Desse encontro inesperado entre as amigas, uma história de amor, ciúmes, violência e preconceito é relatada de uma forma sensível e poética, com diversas camadas de interpretação, onde a política, o amor e a diferença parecem reger o ritmo da obra.
Tanto em sua forma, quanto em seu conteúdo, Identidade (2021) é uma obra cativante que realmente merece prêmios e aplausos. Seja pela interpretação primorosa do elenco, pela forma como a diretora expõe a problemática do racismo a partir de um recorte de época ou pelas suas escolhas estéticas como a filmagem em preto e branco, a proporção 4:3 do formato clássico do cinema, o filme é rico em suas mais variadas dimensões.
Identidade (2021) tenta nos mostrar, o tempo todo, como as mulheres, especialmente mulheres negras, sofrem com pressões e violências dos mais diversos aspectos. Descreve o problema da identidade, em específico a identidade negra, elaborando uma trama que coloca a diferença como central na construção de si e do outro. Assim, Rebecca Hall nos transporta, através de uma sensibilidade feroz e devastadora, para um passado violento que mesmo distante, insiste em se atualizar no presente.