Durante a Segunda Guerra Mundial, os membros do governo da Grã-Bretanha não estavam satisfeitos com os rumos que seu então primeiro ministro Neville Chamberlain (Ronald Pickup) deu às operações de guerra. Para tanto, eles resolvem nomear um novo. Apesar de não ser a primeira opção, Winston Churchill (Gary Oldman) assume o cargo e terá que enfrentar desafios tanto dos rumos no campo de batalha quanto entre seus próprios colegas de governo.
O Destino de uma Nação é o que poderíamos chamar de um “filme de gabinete”. Aqui, temos as imagens das decisões e negociações políticas sobre os andamentos da Segunda Guerra. Tudo se passa entre mapas, canetas e papeis oficiais. Tudo para tentar terminar a guerra mais rápido possível e evitar que ela chegue as fronteiras britânicas. Os campos de batalha surgem na tela somente em determinados momentos para pontuar que tais decisões refletem em vida ou morte de soldados. Por exemplo, para quem assistiu a Dunkirk (2017), em um certo momento, o filme mostra as decisões que foram tomadas que resultariam na Operação Dínamo, mostrada no filme de Christopher Nolan.
Filmes históricos ou baseados em fatos reais,sempre me deixam curiosos sobre o que ocorreu de fato, o que foi endossado ou deixado de lado. Para evitar acreditar em erros históricos retratados nesses, tento restringir a atenção ao universo do filme e não tomar o relato como uma verdade absoluta e fidedigna dos fatos. Visto isso, o Churchill do filme consegue ser notadamente inspirador, um homem de princípios, muitas vezes teimoso mas sabendo quando baixar a guarda. Muitas vezes devido aos puxões de orelha de sua esposa, Clemmie (Kristin Scott Thomas), uma das poucas a lhe dizer as verdades diretamente.
Os enquadramentos e iluminação das cenas frequentemente transformam as imagens de O Destino de Uma Nação em verdadeiros quadros, como quando vemos Churchill indo de encontro com o Rei George VI (Ben Mendelsohn) para aceitar o cargo de primeiro ministro Britânico. Os ornamentos como espelhos, porta retratos e molduras douradas, estátuas e demais itens mostram que estamos em um ambiente real e esses, por sua vez, emolduram os dois personagens ao centro. O feixe de luz vindo de fora dão um ar de esperança, como se essa nova parceria fosse uma luz quase divina para a Grã-Bretanha nesse momento do conflito. Tais elementos trazem a ideia de que o primeiro ministro tem menos domínio que o rei, tanto em posição hierárquica quanto em confiança pessoal da majestade e dos demais membros do governo. É uma visão quase claustrofóbica para o Churchill.
Diversas vezes é utilizada uma câmera que desliza, ou melhor, flutua durante as cenas. Algumas dentro de um gabinete indo de um plano geral, mostrando todo o cenário, descendo até um discurso eufórico de acusação de um dos membros, caminha nos braços deste que aponta para o acusado e terminando no rosto perplexo deste último. Em outras ocasiões faz um movimento inverso, indo de um rosto de um soldado que lê uma carta com péssimas notícias em uma base no campo de batalha, acompanha seu olhar em direção ao céu, passa por um buraco no teto e chega até um avião que sobrevoa o local despejando bombas sobre sua cabeça.
Isso, aliado a diálogos recheados de sarcasmo, estrondosos socos na mesa e conversas políticas que vão rapidamente do pomposo ao mais direto dos termos em segundos. O filme mostra que a guerra não se dá apenas em campos de batalha, mas também em gabinetes escuros, com palavras ácidas cobertas de fumaça de charuto e barulho de máquinas de escrever.
Claro, o primeiro impacto é ver Gary Oldman caracterizado como Winston Churchill. Ele consegue colocar peso no personagem. Tanto como figura histórica quanto em seu modo de andar. Fiquei interessado em saber como foi sua preparação para o papel, visto que ele não tem uma estrutura física muito próxima do primeiro ministro.
Antes que você pergunte, acho que sim. Pode ser que venha uma indicação para o Oscar por ai. Filme de guerra, mudanças corporais e com espaço para o ator mostrar seu trabalho, pode ser uma combinação ideal. Agora, para ganhar, acho que Gary já se deu melhor em outros papeis.
O filme também acerta na escolha do título, tanto no original quanto no nacional. Digo isso, por que em outra produção sobre fatos históricos, Lincoln (2012), o título sugere que vamos acompanhar uma biografia do presidente americano, mas, na verdade, o filme é mais sobre a libertação dos escravos nos EUA do que propriamente sobre o presidente. Ao nomear o filme como Darkest Hour (A Hora Mais Escura, em tradução livre) ou o título em português O Destino de uma Nação, o foco segue em direção aos fatos e o envolvimento do primeiro ministro nele. Diferente se o nome fosse Churchill, por exemplo, em que daria a ideia de focar no protagonista.
Sendo assim, O Destino de Uma Nação é um filme burocrático (num bom sentido), intenso e interessante. Desde o começo já é possível sentir um “cheiro de Oscar”. Basta saber se todo esse aparato histórico vai impressionar os membros da Academia. Boa sorte, Gary e demais envolvidos.