Seguindo a leva de filmes inspirados ou produzidos durante a quarentena, O Dia da Posse,  o terceiro longa do diretor Allan Ribeiro, nos mostra o cotidiano em confinamento de Brendo, um sonhador estudante de advocacia. Em uma dinâmica íntima, diretor e personagem atravessam juntos a realidade pandêmica, que obrigou todos a ficarem isolados em suas residências.

Ao longo de 70 minutos assistimos a hábitos que se tornaram universais no último ano: os exercícios físicos feitos na sala de casa, as aventuras culinárias, as chamadas de vídeos com os parentes e, claro, um certo voyeurismo. Entre suas inúmeras consequências, a pandemia fez com que uma parcela da população, durante um período determinado de tempo, parasse e observasse padrões em cenários do dia a dia até então ignorados.

Neste sentido, O Dia da Posse apresenta trivialidades do cotidiano pandêmico entremeadas por pílulas de reflexão. Brendo, a grande estrela do filme, se sente à vontade com a câmera e ora revela situações de um passado atribulado, ora permite-se sonhar com um futuro melhor em que imagina ser eleito Presidente da República. Por meio de seus depoimentos, observamos questões sociais relevantes do nosso país como a insegurança alimentar, o êxodo para o sudeste e a influência dos reality shows na contemporaneidade.

Tecnicamente, o documentário se assemelha a um diário virtual de dois quarentenados, com nuances que lembram vlogs de mídias sociais e pitadas de poesia. O olhar do diretor busca nos inserir naquele ambiente restrito e, por meio dos sonhos de Brendo, nos incentiva a imaginar um futuro melhor. Algo difícil para o Brasil de 2021, que no momento da publicação desta crítica alcançou a triste marca de 600 mil mortos por Covid-19.

À sua maneira, O Dia da Posse já tem ares de passado ao retratar cenas de isolamento que quase não existem mais, em partes pelo avanço na vacinação e em partes devido o prolongamento da crise sanitária – algo de responsabilidade exclusiva do (des)Governo Federal. Ainda sim, o ambiente limitado, a onipresença de Brendo, e a repetição de reflexões, devaneios e imagens do cotidiano ressoam no presente, gerando um cansaço talvez intencional. Mesmo com a promessa de um futuro menos nebuloso, as marcas da quarentena ainda estão muito recentes e podem afastar o público que deseja tudo, menos se ver novamente preso num espaço confinado.

Enquanto exercício de sanidade durante a quarentena, O Dia da Posse é bem sucedido. Como filme, carece de estrutura, ou pelo menos distanciamento histórico dos espectadores.

 

Essa crítica faz parte da cobertura do cinemascope do 10º Festival Olhar de Cinema.  Acompanhe todas as críticas aqui 

O Dia da Posse

 

Ano: 2021
Direção: Allan Ribiero
Roteiro: Allan Ribeiro, Brendo Washington
Elenco principal: Brendo Washington
Gênero: ​Documentário, Drama
Nacionalidade: Brasil

Avaliação Geral: 2,5