Em 1987 chegava aos cinemas O Predador, dirigido por John McTiernan e estrelado por Arnold Schwarzenegger. À época, essa combinação era uma receita de sucesso por se equilibrar em um tripé forte: desde Alien (1979), o público ansiava por mais aventuras envolvendo seres espaciais. Por isso, nada melhor do que entregar a empreitada a McTiernan, que no ano seguinte dirigiria Duro de Matar, e ter no elenco Schwarzenegger, imortalizado por seu papel em O Exterminador do Futuro (1984). Os espectadores acharam essa mistura extremamente positiva e sua resposta nas bilheterias acabou gerando uma franquia do caçador extraterrestre.

Mais de 30 anos depois, as telonas exibem um novo Predador que, além do mesmo título, possui uma história bem semelhante à de seu predecessor. Dos confins do espaço vemos chegar novamente à Terra um dos seres mais mortais do universo, dessa vez mais forte e inteligente do que antes graças a alterações genéticas. Como sempre, ele vem para caçar e acaba enfrentando alguma resistência, dessa vez imposta pelo soldado Quinn Mckenna (Boyd Holbrook), seu filho Rory (Jacob Tremblay), uma equipe de ex-combatentes desajustados e Casey Bracket (Olivia Munn), uma professora de biologia. Juntos, eles têm uma tarefa nada simples: impedir o fim da raça humana e derrotar o alienígena matador.

Por revisitar uma história conhecida do público, o filme faz diversas homenagens ao longa de 1980. As duas aventuras começam focadas em um membro do exército americano que está realizando uma missão em um país latino. É sob o calor inclemente e a cobertura da selva tropical que tanto Quinn quanto Dutch (Schwarzenegger) têm seu primeiro encontro com a criatura. Ao decorrer da trama os dois líderes precisam conduzir suas equipes para combater o Predador e, mesmo contra todas as probabilidades, tentar vencer. Porém, se no original existia uma certa construção de suspense ao manter oculto o rosto do alienígena, aqui essa preocupação não existe pois o vemos logo na primeira cena. Como alternativa para criar uma sensação de angústia, a ação que antes era ambientada apenas na floresta agora se passa na cidade e traz os perigos do caçador para mais perto dos cidadãos.

Montado de maneira clássica, o filme possui boas cenas de ação e consegue conduzir de forma eficiente o olhar do espectador. Com seu ritmo acelerado, a produção garante uma experiência imersiva que não parece ter 1h47m de duração, curiosamente o mesmo tempo do filme de 1987. Também merece destaque o trabalho das equipes de efeitos visuais e design de criaturas. Tanto os Predadores quanto os cães espaciais possuem uma miríade de detalhes que concedem total credibilidade à história. Além disso, é um alívio ver que, mesmo com a evolução da tecnologia, o filme mantém assinaturas visuais marcantes da obra original, como a explosão característica dos tiros do Predador.

Outro ponto que agrada é a escolha do casting, cujo carisma gera uma empatia imediata com o público. É praticamente impossível não se envolver em uma história que conta com Jacob Tremblay, Olivia Munn e Yvonne Strahovski. Nas cenas conjuntas a dinâmica entre os atores é ótima e gera momentos realmente engraçados. Entretanto, pelo calibre das estrelas que possuía em mãos, o diretor Shane Black poderia ter conseguido atuações muito mais compenetradas. Ao assistirmos O Predador fica claro que o objetivo de Black era conceder um ar de aventura descompromissada ao longa, mas essa decisão acaba por comprometer vários aspectos da trama.

Um deles são os personagens, que foram mal conduzidos. O excesso de atores (11 entre protagonistas e coadjuvantes) impede que eles tenham tempo de tela adequado para a elaboração de suas histórias.  Quinn Mckenna, o soldado com ares de herói, não passa pelas mudanças inerentes ao seu arquétipo e termina o longa em um estado de espírito semelhante ao do começo. A professora Casey e a esposa de Quinn, Emily (Strahovski) são figuras dramáticas diminuídas e possuem um final inexistente. Simplesmente não sabemos como suas narrativas terminam porque elas não aparecem. Outras questões mais delicadas, como o espectro de autismo de Rory e os transtornos pós-traumáticos da guerra nos ex-combatentes, entram como justificativa dramática ou alívio cômico e são igualmente frágeis.

Por conta disso, é inevitável olhar com mais atenção o texto que serve de base para o filme. As perseguições ágeis, a violência gráfica semelhante à dos games e a criação de situações que resultarão em catástrofe são bem prazerosas de assistir. Contudo, os furos no roteiro geram ocorrências inexplicáveis e o terceiro ato, explosivo e de ação desmiolada, depõem contra a qualidade do script. Isso fica claro nas inúmeras vezes em que a frase “shut the fuck up” é repetida. Esse recurso pobre, que e ecoa expressões para conceder fala aos personagens, é uma alternativa que em nada contribui para o trabalho dos atores.

Assim como seu antecessor, O Predador não possui uma segunda camada de significados e gera pouca ou nenhuma reflexão no público. Isso não é um defeito, mas impede que o filme entre para o seleto grupo de obras que leva o cinema de entretenimento escapista a um novo patamar. O longa é tudo aquilo que se espera de um filme de alienígenas caçadores e até abre novas possibilidades para a franquia. É talvez o melhor capítulo da visita dos Predadores à Terra, mas se comparado com outros filmes do gênero acaba virando presa e perdendo a caçada.

O Predador

 

Ano: 2018
Direção: Shane Black
Roteiro: Fred Dekker e Shane Black
Elenco principal: Boyd Holbrook, Jacob Tremblay, Olivia Munn, Yvonne Strahovski, Sterling K. Brown
Gênero:  Ação, Aventura, Horror
Nacionalidade: EUA

Avaliação Geral: 3