Por Domitila Gonzalez

Acho engraçado como o mercado cinematográfico atual está preenchido de filmes pretensiosos. Avatar, Les Mis, 007 (mais um da franquia) e as mais recentes adaptações da Marvel. BOOM!, explosões, roteiros cheios de reviravoltas, o vilão heavy metal, o mocinho lindo e cheio de qualidades, o herói que tem um número incrível de vidas e cartas na manga pra derrubar qualquer oponente.Isso cansa.Claro que é incrível acompanhar a trajetória de grandes diretores do cinema e, POXAVIDA, É MUITO LEGAL ver no que se transformou a computação gráfica. Mas às vezes eu penso que os grandes diretores de nosso tempo, os grandes diretores de nossa geração – ou os que fazem grandes números no cinema mundial – esqueceram-se de como era contar uma história.

Contar uma história e apenas isso.

Coisa que o cinema europeu faz – e com maestria.

Sem floreios,Os Sabores do Palácio é um filme totalmente despretensioso. A história de como Hortense Laborie (Catherine Frot Associés contre le crime ; Pascal Thomas, 2012), chefe na base científica do arquipélago de Crozet, na Antártica, foi parar na cozinha privativa do então presidente da França, François Mitterrand. Ou será que é ao contrário?

Num vaivém de universos – ao que me parece, o único recurso de linguagem utilizado pelo roteirista – começamos o filme com uma equipe de documentaristas trabalhando no navio e uma cidadã pentelha insistindo em entrevistar Hortense, que rapidamente nega, já sabendo que a pauta seria o tempo em que passou cozinhando na rua Faubourg Saint-Honoré, número 55 – residência de Mitterrand.

De repente, a velocidade muda e somos levados a uma caminhada frenética por Paris, descobrindo as relações da rotina de François. Durante quase 20 minutos, somos apresentados a uma infinidade de protocolos que exigem desde um perfeito senso de localização até cordiais “bom dia” a serem desejados a todos – afinal nunca se sabe com quem você pode cruzar nos corredores.

Os Sabores do Palácio não é um longa de grandes feitos e isso já foi comentado. Justamente por esse fato, se os atores não forem bons, caímos em desgraça.

Catherine Frot merece toas as trufas de Hortense, porque convence em cada reação e conquista o espectador desde o primeiro momento, trazendo à tona a força e as convicções de Laborie.

O filme está classificado como comédia. Claro que para o brasileiro é um tipo de humor diferente, mas ainda assim é possível dar umas boas risadas com frases-chave do texto, além de sermos embalados pela uma trilha sonora composta por Gabriel Yared (Cold Mountain; Anthony Minghella, 2003) que conversa perfeitamente com as cenas. O momento em que os violinos explodem na música enquanto os moluscos abrem na panela é INCRÍVEL.

E nesse emaranhado de situações reais e ficcionais, até mesmo o clichê dos clichês acaba se tornando algo especial, porque está dentro de um contexto perfeitamente justificado. A valsa da despedida e o pequeno teatrinho mostrando a vida de Hortense dialogam com o filme, porque são simples.

O filme é simples e convence por isso. Resgata uma história, resgata a função primordial do cinema. E, mesmo sem ter pretensões, acaba se tornando uma ótima experiência histórico-gastronômica.

 

Cinemascope - Os sabores do palacio - Poster BROs sabores do Palácio (Les saveurs du palais)

Ano: 2012.

Diretor: Christian Vincent.

Roteiro: Christian Vincent, Etienne Comar.

Elenco Principal: Catherine Frot, Jean d’Ormesson, Hippolyte Girardot, Arthur Dupont.

Gênero: Comédia.

Nacionalidade: França.

 

 

 

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