Exceto pelos documentários Pina (2011) e O Sal da Terra (2014), há algum tempo Wim Wenders não faz um filme aclamado pela crítica, ou mesmo um sucesso comercial. Sua nova tentativa no gênero romance, Submersão (Submergence), segue uma linha que passa bem longe da genialidade de seus clássicos – que incluem Asas do Desejo, Paris Texas e Buena Vista Social Club, para citar apenas alguns.
O longa, estrelado por Alicia Vikander e James McAvoy, conta a breve história de amor entre Danielle e James. Ela é uma matemática que estuda a vida em uma camada profunda do oceano, ele é um soldado que atua como espião em zonas de conflito. Os dois se conhecem em um charmoso hotel francês, passam algum tempo juntos e se apaixonam perdidamente. Com promessas de manter contato, eles se separam quando Dani segue rumo a um submarino, no qual vai permanecer durante um mês trabalhando, e James vai para uma perigosíssima e super secreta missão na África. A partir daí, as histórias se desenvolvem paralelamente, ambas pendendo mais para o drama, com a constante de que nenhum dos amantes é capaz de esquecer o outro.
Se a premissa do filme soa um pouco fraca, é porque realmente não há muito o que tirar dela. Danielle é o estereótipo da “pobre menina rica”, obcecada pelo trabalho e ligeiramente antissocial. A solidão da personagem – com a qual ela aparenta estar acostumada e confortável, no início do filme – torna-se algo insuportável ao ponto de a pesquisadora não conseguir mais se concentrar no trabalho, só porque perdeu contato com o completo estranho por quem se apaixonou loucamente em poucos dias. Talvez fosse aceitável se os atores tivessem 15 anos de idade.
James, por sua vez, é aprisionado por típicos vilões terroristas e passa por uma série de torturas que o deixam à beira da morte, mas também não consegue esquecer a bela moça que mal conheceu e que já conquistou seu coração. Em vários momentos, ele a cita como sua razão para sobreviver, como se não tivesse família ou qualquer outra pessoa no mundo por quem se importasse. Todo esse ardor por um simples flerte parece irreal e exagerado, especialmente para um homem na situação extrema na qual ele se encontra.
A coisa que mais incomoda na história é o fato de que a relação que deveria sustentar o filme é apressada, juvenil e inverossímil. Em uma cena que provavelmente tinha a intenção de ser “bonitinha”, a personagem de Alicia Vikander tira a roupa na frente de um desconhecido (no caso, o futuro grande amor de sua vida) e se joga em uma água gelada, em pleno inverno. É aquele tipo de cena que fica difícil transpor para a vida real. Posteriormente, quando está em alto mar, realizando o sonho de mergulhar até onde sempre quis ir, tudo o que Dani consegue fazer é se aborrecer porque não tem sinal de celular. Quer dizer que você dedica toda a sua vida a uma pesquisa e depois não consegue trabalhar nela porque um sujeito que acaba de conhecer não te ligou?
Outro grande problema está no total desequilíbrio entre as duas histórias. Enquanto Dani passa a maior parte do filme – ainda que um pouco melancólica – confortavelmente instalada em um navio, James está quase morrendo no meio de uma guerra. É visível a tentativa de aproximar as duas narrativas visualmente, traçando pontos em comum entre as jornadas, mas o fato é que elas têm diferenças gritantes. O paralelo não funciona simplesmente porque a história da mulher não tem nenhuma tensão. Não dá para comparar um passeio de submarino com a verdadeira descida ao inferno que um espião capturado pelos inimigos é obrigado a enfrentar.
Exceto pelo apuro visual, com belas cenas explorando o oceano, não há muito no filme que agrade. Os dois atores protagonistas, apesar de atraentes e talentosos, não são capazes de alavancar um romance que deixa bastante a desejar. A trilha sonora é invasiva e tenta forçar uma emoção que a história não passa. Os diálogos são ruins e sem naturalidade, em um roteiro no qual, visivelmente, a adaptação do livro de J.M. Ledgard se perdeu. A estrutura de flashbacks e narrativas entrecortadas torna tudo ainda mais fragmentado e artificial.
Em certo momento, um dos personagens reflete sobre a escuridão que existe no mundo, afirmando que “descer ao fundo do oceano nos faz questionar nosso senso de identidade e perguntar de onde viemos”. Com Submersão, a única questão é por que Wim Wenders foi afundar ainda mais sua carreira com uma obra tão aquém de seu potencial, literalmente submersa em problemas.