O último ano foi no mínimo interessante para os fãs de filmes de terror. Entre os lançamentos do gênero, destacaram-se o sucesso de público e crítica Hereditário, o horror/sci-fi Aniquilação e o remake de Suspiria. Um Lugar Silencioso está entre esses filmes, alavancando a carreira do diretor John Krasinski (conhecido por seu trabalho como ator na série cômica The Office).
O longa é protagonizado por Emily Blunt, esposa do diretor na vida real. Na história, ela é Evelyn Abbott, mãe de três filhos – Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e Beau (Cade Woodward) – e casada com Lee Abbott (interpretado pelo próprio Krasinski).
Logo na primeira cena, a família busca por mantimentos em uma cidade aparentemente abandonada, típica de um cenário pós-apocalíptico. O silêncio é o principal elemento de tensão, já que todos evitam fazer qualquer tipo de barulho e se comunicam por linguagem de sinais – até porque uma das crianças, Regan, é surda.
Não demora muito para que as “criaturas” sejam apresentadas, de maneira bastante chocante. Os monstros do filme são atraídos pelo barulho, por isso a necessidade de manter o silêncio para garantir a sobrevivência. Os Abbott têm a sorte de viver em uma fazenda, onde foram capazes de se esconder dos seres misteriosos que praticamente exterminaram o resto da humanidade.
A tragédia que marca a cena inicial do filme permanece na família, mesmo com o passar do tempo. Evelyn engravida e está nos últimos dias de sua gestação, planejando com Lee todos os aspectos que permitirão a um bebê recém-nascido viver nesse mundo. No entanto, como é de se esperar em um filme desse gênero, as coisas começam a dar errado e desencadeiam uma reação em série que pode colocar tudo a perder.
O clima de terror e mistério que cerca Um Lugar Silencioso é comum na ficção científica – um exemplo disso é Bird Box, estrondoso sucesso da Netflix, estrelado por Sandra Bullock e lançado no final do ano passado. Assim como o filme da popular plataforma de streaming, o longa de Krasinski explora os limites a que os pais podem chegar para manter seus filhos seguros. Outro longa que aborda essa sensação de medo palpável de uma ameaça praticamente desconhecida é Sinais (2002), de M. Night Shyamalan.
Entre os fatores que tornaram Um Lugar Silencioso um enorme sucesso está a consistência na direção de Krasinski, que não apela para a maior parte dos clichês do gênero e prefere um tipo de horror mais sutil. Além disso, o suspense é construído de maneira muito inteligente para um filme quase totalmente silencioso, por meio de uma primorosa mixagem de som – que foi indicada ao Oscar.
As relações familiares também são um ponto forte da história. A dinâmica e os traumas compartilhados por esse pequeno grupo de sobreviventes mostra muito bem como é difícil conviver com a culpa, mesmo quando existe amor. Merecidamente, Emily Blunt recebeu o Screen Actors Guild Awards, prêmio do sindicato dos atores nos Estados Unidos, por sua atuação no filme.
Embora o longa tenha uma narrativa visual, já que os diálogos são extremamente econômicos, o som de cada passo, de cada ranger das tábuas da casa, pode ter consequências fatais. Isso gera uma atmosfera de constante tensão, que faz com que o espectador não saiba realmente se algum dos personagens será capaz de escapar no final – o que é ótimo para quem gosta de filmes de terror.
Afinal, o horror no cinema funciona como uma forma de colocar nossas experiências pessoais em perspectiva: se estou em segurança vendo o personagem se dar mal, posso respirar aliviada e apreciar minha existência livre de ameaças. Nesse caso, quanto maior o perigo na tela, melhor.