Por Luciana Ramos
Marc Fitoussi começou a carreira dirigindo curtas-metragens e ganhou reconhecimento ao ser nomeado ao premio Cesar pelo média-metragem Bonbon au poivre, de 2005. Desde então, realizou quatro projetos, dentre eles um documentário, chamado L’Education anglaise (2006). Mais conhecido por Copacabana (2010), com Isabelle Huppert, volta a trabalhar com a atriz na comédia dramática Um Amor em Paris.
Nela, Huppert vive Brigitte, uma fazendeira que vive uma rotina tranquila com o marido de longa data, Xavier (Jean-Pierre Darroussin). O único problema é que está absurdamente entediada. Um dia, uma festa numa casa vizinha o faz conhecer o jovem Stan (Pio Marmai), por quem se interessa. Com a desculpa de que vai a Paris tratar da eczema que a acomete, deixa o marido rumo a uma aventura amorosa.
A atriz brilha no papel de uma mulher autêntica e despojada, que se abre à diferentes possibilidades na busca da satisfação pessoal. Xavier, que a segue na cidade, consegue equilibrar momentos mais leves e dramáticos, passando apenas com o seu olhar a angústia e o medo em perder a sua mulher. Os diálogos são divertidíssimos e o longa flui de tal maneira que quando termina faz o público desejar por mais.
O longa, totalmente ficcional, como o diretor fez questão de frisar, nasceu da vontade de trabalhar novamente com Isabelle e botá-la em uma situação diferente da qual está acostumada. Ela, a quem o diretor considera “parisiense em essência”, atua como uma criadora de bois, que vive numa remota fazenda na Normandia. Ademais, atua em um papel cômico em contraposição à carga emocional que geralmente carrega em seus filmes.
Quanto ao tema, Fitoussi fez questão de frisar que a possibilidade da traição foi utilizada como recurso narrativo para a consolidação do conflito e não concorda com a dita “preferência” dos franceses em inseri-la em toda e qualquer história, frisando a diversidade do cinema francês atual. Ao debater sobre outra cena, em um personagem indiano ouve comentários racistas, ele voltou a frisar a sua preocupação com o roteiro e o uso de críticas sociais como ganchos para o avanço do enredo, classificando os seus filmes como “não-planfetários”.
É notável um controle de ritmo durante todo o longa; as cenas duram exatamente quanto necessitam para passarem os significados, os cortes são precisos, a trama, fluida. Fitoussi destacou a importância de atentar a esses fatores para não tornar o filme chato e contou que o planejamento começa no roteiro. Para um filme ser cativante e prender a atenção, o enredo deve ser conciso e claro, sem gorduras. A edição auxilia neste processo e, no caso particular de Um Amor em Paris, a trilha sonora exerceu um grande papel. O filme é recheado de jazz da década de 1960 e musicas pop contemporâneas que acompanham a imagem e finalizam as cenas de maneira orgânica, tornando este longa diferenciado no Festival pelo seu acabamento.
Alguns fatos curiosos permearam as gravações. Em uma cena, Brigitte anda de roda gigante com Jasper (Michael Nyqvist), seu interesse romântico e esta seria filmada num parque de diversões. No entanto, o fato da atriz ser acrofóbica forçou a equipe a rodá-la em back projection. Uma outra sequência deu ainda mais trabalho. Levando em consideração a profissão do casal Brigitte e Xavier, o diretor quis gravar uma cena com uma vaca parindo. O único problema era o fato de o animal demorar horas para fazê-lo. A equipe inteira ficou esperando até um veterinário gritar que estava prestes a acontecer. Então, segundo ele, todos saíram correndo para gravarem a tempo.
Marc Fitoussi, que para muitos brasileiros permanece desconhecido, revela ser um autor maduro e eficaz, com extremo controle da sua história, que sabe combinar comédia e drama sem cair na mesmice e dar diferentes ares ao já batido tema da traição. O seu filme, Um Amor em Paris, é engraçado, comovente e leve. Vale a pena assistir, em especial, pela atuação de Isabelle Huppert como uma mulher em busca de algo a mais.