Por Aline Fernanda
Beetlejuice, Beetlejuice, Beetlejuice ou Besouro Suco, Besouro Suco, Besouro Suco (menos sonoro, mas mais sessão da tarde).
Quem aqui nunca tentou chamar o famoso “demônio” para ajudar? Ou pela simples curiosidade? O segundo longa do diretor Tim Burton conta a história do jovem casal Barbara e Adam Maitland (Alec Baldwin e Genna Davis), que morrem em um acidente após o casamento. Apegados à casa dos sonhos, eles se recusavam a sair do lugar e ficavam indignados quando os excêntricos Deetz compraram o imóvel e se mudaram para lá. Na tentativa de expulsar a nova família de moradores, o casal contratava os serviços de Beetlejuice, que podia ser invocado caso seu nome fosse pronunciado três vezes. Mas o exorcista se mostrava não apenas inconveniente, mas também maligno, e os Maitland e os Deetz acabavam unidos para tentar se livrar dele.
O longa reverte o roteiro normal de uma casa mal-assombrada, desta vez são os fantasmas que querem se livrar dos humanos. O casal depois de desencarnados volta para casa onde encontram o Manual para os Recém-Falecidos. E mesmo depois de uma orientação com sua “fiscal pós-vida”, Sylvia Sidney, descobrem que é difícil assustar pessoas.
Mais uma vez Tim Burton usa seus anos de trabalho no setor de animações da Disney para criar um visual bizarro para o longa e desenvolver o humor negro de seu primeiro longa, As Grandes Aventuras de Pee-Wee.
Apesar de ter similaridades entre Pee-Wee Herman de Paul Reubens e o Betelgeuse de Keaton em termos de grosserias egocêntricas e tagarelice interminável, este último filme não é exatamente um veículo para um único astro cômico. Keaton não recebeu um pagamento astronômico por sua ótima atuação, possibilitando a escolha de um ótimo elenco.
As performances dos atores para o filme foram únicas e cheias de bom gosto. Michael Keaton roubou a cena dando vida ao Beetlejuice, mas teve que dividir as atenções quando estava junto com Catherine O’Hara criou uma personagem hilária pelo fato de sua personagem não ter humor, Winona Ryder parece em casa com seu personagem sombrio e cheia de ceticismo.
Tim Burton quebrou convenções clássicas de Hollywood, pequenas convenções como o fato do filme não fazer sentido o tempo todo, fazer com que alguns efeitos especiais fossem bregas ao extremo, ou não mostrar o personagem que dá nome ao filme até a metade do filme ou ainda matar os protagonistas depois de 8 minutos de filme, apesar da morte precoce dos protagonistas, o diretor economiza e não erra na mão, já estamos cativados pelo jovem casal recém-casado. Apesar da fórmula arriscada o filme funciona maravilhosamente bem e tem um toque de genialidade do diretor.
“Outra coisa bacana é que não imagino trabalhar novamente em um filme no qual o começo seja tão vago. Todos os dias, não sabíamos o que cairia bem ou não, e continuamos não sabendo até o final. Estávamos conceituando os conceitos mais estúpidos. Mas todos estavam concentrados no trabalho. Conversar sobre aquilo fazia com que nos sentíssemos como estudantes universitários que tinham tomado ácido”, comentou o diretor sobre o início do roteiro.
A Warner estava por trás do projeto, mas sem grandes expectativas, de forma que não viabilizou verbas astronômicas, como de costume, nem cultivava a ideia de que o filme seria um sucesso. Mas o estúdio se enganou e Os Fantasmas se Divertem teve 70 milhões de arrecadação e custo de 13 milhões, foi sucesso no mundo todo, mesmo depois de 26 anos não perdeu seu senso cômico e riqueza visual e seu senso de diversão do terror.
Fiquei contente em ver que o público é mais inteligente do que o estúdio imaginava. A linha de pensamento atual é de que se você tiver efeitos especiais, eles devem ser utilizados como uma forma de arte, e que você precisa ter uma grande história indo de A para B para C para D. Você assiste a coisa como Action Jackson e as pessoas gostam, e você pensa ‘o que estou fazendo aqui, porra?’. Sempre odiei aquele tipo de estrutura de historia em que cada linha é um novo assunto, sabe, do tipo ‘Não os alimente depois da meia-noite senão eles explodirão!’. Foda-se esse tipo de merda”, comentou o diretor na época do lançamento do filme.
Os críticos americanos de cinema saudaram o filme com extremos, alguns amaram, odiaram e ficaram confusos. E durante algum tempo foi a vez do Tim Burton ficar assustado, “Sempre odiei, acho que vou vomitar durante um mês. Odeio as exibições de teste de marketing (em bairros de grande poder aquisitivo) pra jovens nervosos e problemáticos. É algo válido em termos amplos. Mas não do jeito que o estúdio avalia, olhando cada pequena reação. Se alguém do público se vira, a reação é ‘Meu Deus, cortem aquela cena!’ E então eles concluem que o público alvo deste filme é de garotos de 18, 19 anos e meio com bigode”.
Uma das coisas que mais gosto no longa é o momento do casamento de Beetleguice e Lydia, o que mais pra frente seria um problema (em Noiva Cadáver), em Os Fantasmas se Divertem não é tabu, não existem tabus nos mundos dos mortos. Um morto e uma pessoa viva se casam e ok!
Além de Burton, o longa também ajudou a alavancar a carreira de seus atores principais, que tiveram na comédia de humor negro seu primeiro grande sucesso. Além disso, o filme deu origem a uma série de desenhos animados.
Uma ideia que nunca abandou o diretor: risadas e medo são emoções similares e que é interessante mudar de uma para a outra.
– Tim Burton queria escalar Sammy Davis Jr. (Onze Homens e Um Segredo; 1960) como o “bio-exorcista” Beetlejuice/Betelgeuse, mas o estúdio não aceitou. Quem sugeriu Keaton foi o David Geffen, produtor da Warner.
– Michael Keaton filmou sua participação em apenas duas semanas e, apesar de ser o personagem título, aparece em pouco mais de 17 dos 92 minutos de filme.
– O estúdio não gostava do título original Beetlejuice, inspirado na constelação Betelgeusem, e queria batizar o filme de House Ghosts. Sobre isso Burton comentou: “O pessoal do estúdio vai até o shopping e pergunta para as crianças: ‘Você preferiria ver um filme chamado Beetlejuice ou algo com fantasmas?’ Fico muito agradecido por eles terem me deixado manter Beetlejuice. Graças a Deus!”
-Jack Skellington, personagem protagonista de O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas; 1993), aparece pela primeira vez em Os Fantasmas se Divertem (a caveira sorridente aparece no topo do chapéu circo/carrossel de Beetlejuice).
– O roteiro original de Michael McDowell descrevia Beetlejuice como um demônio reptiliano alado e seria um filme de horror puro, sem espaço para a comédia.
– Catherine O’Hara entrou para o elenco do filme para substituir Anjelica Huston (Os Excêntricos Tenenbaums) que, doente, precisou abandonar a produção.
– A famosa cena do jantar seria embalada por uma música do grupo The Ink Spots, mas Jeffrey Jones e Catherine O’Hara achavam que a trilha deveria ser algo na linha do calipso, estilo musical afro-caribenho. Foi aí que Danny Elfman sugeriu “Banana Boat Song” de Harry Belafonte.
– Pelas persianas da sala em que Adam e Barbara esperam é possível ver dois esqueletos coloridos que depois seriam vistos em Marte Ataca! (1996), além de um homem de terno preto, chapéu e óculos Ray-Ban que lembra Jake Blues de Os Irmãos Cara de Pau, personagem de John Belushi (comediante que morreu em 1982).
O que aconteceu com os atores principais de Os Fantasmas se Divertem?Michael Keaton (Beetlejuice)
Keaton deu vida ao Beetlejuice e na época tinha pouco mais de dez anos de carreira. Um ano depois, ele voltou a trabalhar com Tim Burton, que o transformou em Batman e voltou a vivenciar o herói em Batman – O Retorno (1992) . Atuou em filmes como Jackie Brown e A Um Passo da Glória, além de dublar o boneco Ken em Toy story 3 e aparecer na série 30 Rock. Esse ano o ator fez RoboCop, dirigido pelo brasileiro José Padilha e em breve o ator vai estrelar no longa Birdman, do diretor Alejandro González Iñárritu.
Alec Baldwin (Adam Maitland)
O ator engordou seu currículo nesses últimos 26 anos, atuando em filmes de diversos gêneros e sendo até indicado ao Oscar por seu papel em The cooler – Quebrando a Banca (2003). Mas, além de trabalhar com diretores como Martin Scorsese, Robert De Niro e Woody Allen (em Para Roma com amor e Blue Jasmine), se tornou extremamente popular com a série de TV 30 rock. Em 2015, o ator poderá ser visto nas telonas em Missão Impossível 5.
Geena Davis (Barbara Maitland)
A atriz ganhou Oscar de coadjuvante por O Turista Acidental (1988), foi indicada a melhor atriz por Thelma & Louise (1991), bancou a pirata em A Ilha da Garganta Cortada e foi a carinhosa mãe de um ratinho na trilogia O pequeno Stuart Little. No início dos anos 2000, chegou até a ter sua própria série de TV, chamada “The Geena Davis Show”. Em 2009 estrelou no longa Accidents Happen e em breve a atriz vai estrelar o longa A Voz de uma Geração.
Winona Ryder (Lydia Deetz)
A atriz estourou com o filme e atuou em outros sucessos como A Fera do Rock, Edward Mãos De Tesoura, novamente com Tim Burton, Minha Mãe É Uma Sereia, Adoráveis Mulheres e Garota, Interrompida, entre outros. Depois de ser flagrada roubando roupas em uma loja, sua carreira foi seriamente abalada e ela levou anos para limpar a imagem. Recentemente, seus papéis de maior destaque foram em Cisne negro, dublando uma personagem da animação Frankenweenie, trabalho que marcou seu reencontro com Burton. Este ano a atriz participou do longa Linha de Frente, um filme com roteiro de Sylvester Stallone e no qual contracena com James Franco e Jason Statham.
Catherine O’Hara (Delia Deetz)
O’Hara ficou famosa dois anos após Os Fantasmas se Divertem como a mãe de Kevin (Macaulay Culkin) na franquia Esqueceram de Mim. Ainda sim manteve uma relação próxima de Burton e dublou personagens nas animações O Estranho Mundo de Jack e Frankenweenie. A atriz fez participações em algumas séries como, A Sete Palmos e Curb your enthusiasm, e atuou em alguns filmes, Wyatt Earp, Desventuras em Série e Par perfeito. Em 2013, a atriz participou de quatro filmes, entre eles o drama Rememory, com Peter Dinklage (da série Game of Thrones).
Jeffrey Jones (Charles Deetz)
Jones já era conhecido como o diretor da escola de Curtindo a Vida Adoidado e depois atuou em filmes como Caçada ao Outubro Vermelho e Advogado do Diabo. O ator continuou sua parceria com Tim Burton em Ed Wood e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Trabalhou mais uma vez com Ryder em As Bruxas de Salém e com Geena Davis em O Pequeno Stuart Little. Em 2002 o ator foi preso, sob a acusação de pornografia infantil, novas detenções aconteceram em 2004 e 2010, porque o ator desobedeceu as regras da condicional e sua carreira foi quase por água abaixo. Trabalhou em 2006 na série Deadwood e em 2012, fez uma ponta em Hemingway & Martha, filme da HBO sobre o escritor Ernest Hemingway, mas seu papel era tão pequeno que sequer foi creditado.