Por Felipe Teixeira
Um épico de fantasia com anões, elfos, árvores falantes, magos e outras criaturas, todas ameaçadas por um anel do poder. Muita coisa poderia ter saído errado na adaptação cinematográfica dos três livros criados pelo inglês J. R. R. Tolkien (1892-1973), que alguns consideravam inadaptáveis para a sétima arte, tamanha a complexidade e amplitude das obras. Mas graças ao impecável trabalho do diretor e roteirista Peter Jackson, das outras roteiristas Phillipa Boyens e Fran Walsh e de uma eficientíssima equipe de fotografia, trilha sonora, efeitos visuais e direção de arte, O Senhor dos Anéis é hoje umas das melhores histórias já contadas no cinema.
A produção da trilogia foi bem complicada. O custo era alto, e o neozelandês Peter Jackson, fã de carteirinha da história, teve que ralar muito até conseguir o papel de diretor do filme, em parte devido ao seu modesto currículo. Seu principal filme até então havia sido Almas Gêmeas (1994), que apresentou Kate Winslet ao mundo pouco antes de Titanic. Após um acordo com a New Line Cinema, todos os três filmes, como nunca antes na história, começaram a ser rodados simultaneamente. Foram 274 dias de filmagem, com anos de pré e pós-produção, que contaram com uma equipe de 2.400 pessoas e 26 mil figurantes. O orçamento exato da trilogia nunca foi divulgado, mas estima-se o preço de 300 milhões de dólares, logo esquecidos frente aos mais de 3 bilhões que os três filmes arrecadaram mundo afora. Isto sem falar nas 17 estatuetas do Oscar e os outros mais de 70 prêmios que a trilogia recebeu.
A Sociedade do Anel, primeira parte da história, foi indicada a treze e recebeu quatro estatuetas: Melhores Efeitos Visuais, Trilha Sonora, Fotografia e Maquiagem. Lançado no fim de 2001, o filme introduz os espectadores ao universo da Terra Média e seus diversos e magníficos habitantes. Com quase 3 horas de duração, foi uma produção que encheu os olhos de muitos desacreditados, ressuscitou o cinema fantástico em declínio e deixou milhões de antigos e novos fãs da história esperando pela segunda parte que chegaria somente um ano mais tarde.
Nesta primeira etapa, acompanhamos a origem da Comitiva do Anel, formada por elfos, anões, hobbits e homens, responsáveis por levar o Anel do Poder até a Montanha da Perdição para destruí-lo e impedir a volta de Sauron, o criador e senhor dos anéis que pretender dominar a Terra Média. A sinopse fantasiosa, recheada de elementos que podem ser considerados infantis, talvez afaste alguns espectadores logo de cara. Mas o tom sério e épico que Peter Jackson confere à trama e aos personagens ainda no espetacular prólogo do filme, que dura cerca de 8 minutos, já expõe sua proposta dramática. Além disso, este início expositivo, com a elfa Galadriel narrando os principais eventos ocorridos até o ponto de partida do longa-metragem, já contextualiza o espectador na complexa história de forma muito eficiente.
E, ao contrário dos livros, por vezes demasiadamente descritivos e parados, o roteiro do trio Jackson, Boyens e Walsh é dinâmico e também competente ao apresentar os fortes personagens ao mesmo tempo em que constantemente avança com a trama. Após seu início, necessariamente mais lento para situar o espectador, o filme não desacelera em quase nenhum momento, e quando isso acontece, é para conhecermos a novos personagens ou para assistirmos a diálogos extremamente bem construídos, como o marcante discurso de Gandalf para Frodo nas Minas de Moria. Assim, apesar da longa projeção, não é incomum que muitos espectadores nem percebam a passagem do tempo.
E se os personagens podem ser considerados fortes, o grande mérito vai para os atores que lhes dão vida. Desde o jovem Elijah Wood, como um confuso Frodo Bolseiro, até o já veterano Ian Holm, como seu perturbado tio Bilbo. Além destes, Viggo Mortensen também cria um corajoso e determinado Aragorn, Sean Bean está ótimo como Boromir e Hugo Weaving confere sabedoria ao elfo Elrond. Mas o grande destaque fica por conta de Ian McKellen, que parece ter nascido para atuar como o poderoso e sábio Gandalf, um mago de sotaque britânico e apaixonado por uma boa erva. Sua interpretação foi tão boa que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, a única recebida por qualquer um dos atores em toda a trilogia.
Além de um elenco afiado e um roteiro excepcionalmente bem adaptado, a parte técnica do O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel também é quase perfeita. Só não atinge a perfeição porque melhora ainda mais nos dois filmes posteriores. A fotografia é linda e orgânica (perceba como a iluminação de crepúsculo em Valfenda reflete o declínio da Era dos Elfos), a direção de arte dispensa comentários, incrivelmente detalhista e grandiosa, e a trilha de Howard Shore, com suas encantadoras melodias, emociona e empolga a qualquer um. Por fim, os efeitos visuais da WETA, empresa de computação criada pelo próprio Peter Jackson, fazem balrogs, nazgûls e trolls tornarem-se reais, além de amplificarem a beleza e detalhamento de cenários como as estupendas escadarias da floresta de Lothlórien. Um fator interessante sobre esta parte é que efeitos de última geração como estes foram acompanhados pelos mais antigos truques de cinema, como as técnicas de perspectiva para juntar o grande Gandalf e os pequeníssimos hobbits na mesma sequência de cenas que funcionaram tão bem.
Mas nenhuma destas qualidades poderia estar desacompanhada do surpreendente e magnífico trabalho do diretor neozelandês Peter Jackson. Equilibrando cenas espantosamente grandiosas de ação com momentos íntimos e sinceros entre os personagens, Jackson conseguiu algo digno de aplausos: transportar um universo inteiro de mais de 1000 páginas para as telonas e capturar conscientemente tudo o que ali estava, aumentando ainda mais os contornos dramáticos e o caráter épico da obra.
Desta forma, após tantas reviravoltas, principalmente na segunda metade de O Senhor dos Aneis – A Sociedade do Anel, é difícil não se emocionar com sua cena final. Diante de uma imensidão de perigos, dois pequenos hobbits iniciam sua lenta caminhada rumo à Mordor, enquanto a música tema de sua terra natal toca ao fundo até o início dos créditos. Um final anti-climático, desesperançoso e lindo, que particularmente considero como um dos melhores que já vi.
Explodindo as bilheterias e desafiando críticos de todo o mundo, que já não acreditavam na qualidade do cinema fantástico, O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel revolucionou a indústria e tornou-se um marco do cinema contemporâneo e merecedor de todos os elogios. Suas duas sequências, As Duas Torres e O Retorno do Rei, também seguiram pelo mesmo caminho. Até lá.
A fotografia de O Senhor dos Anéis – A Sociedade do Anel é abordada em detalhes no curso Direção de Fotografia ministrado pelo professor Kiko Barbosa. Mais informações no link abaixo.
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