Em cartaz de 6 a 28 de março, a Mostra reúne produções desde os anos 1970 até hoje, incluindo clássicos polêmicos e lançamentos recentes como Ninfomaníaca e Azul É a Cor Mais Quente
Da redação
Apesar de o corpo e o sexo serem expostos, comercializados e alvos de exploração imagética constante, o ato sexual ainda é um tema tabu na sociedade e sempre enfrentou diversos tipos de censura ao ser levado às telas de cinema. Mas a decisão de transformar em espetáculo público um ato tão íntimo não é sempre desprovida de intenções que vão além da exploração pornográfica: sua forma de representação pode denotar também, além de uma escolha estética, uma afirmação ideológica capaz de expressar e subverter relações de poder sociais e psicológicas estabelecidas.
Essas relações podem estar associadas aos tradicionais sentimentos de afeto e união, mas também aos de frustração, raiva, vingança ou ainda à busca do simples prazer, sem nenhum sentimento envolvido, bem como a associações com criminalidade e política. Partindo dessas reflexões sobre a representação cinematográfica do ato sexual, a mostra OBSCENA: SEXO NO CINEMA, em cartaz nas salas de exibição do CINUSP Paulo Emílio entre os dias 6 e 28 de março, inspira o debate sobre os limites ambíguos entre pornografia, erotismo e sensualidade, colocando em discussão a ideia de obscenidade por meio de uma seleção de dezoito longas-metragens e sete curtas que escancaram o sexo sem pudor nem maquiagem, utilizando-se do tratamento explícito para provocar o espectador, questionar os interditos e problematizar as fronteiras entre arte e pornografia, não tão bem demarcadas quanto as concepções tradicionais poderiam querer.
Motivada pelos lançamentos recentes nos cinemas do Brasil de um número significativo de filmes que se utilizam de cenas de sexo explícito, como Ninfomaníaca, de Lars Von Trier, Azul É a Cor Mais Quente, de Abdellatif Kechiche, Um Estranho no Lago, de Alain Guiraudie, e o recém-lançado filme chileno Jovem Alocada, de Marialy Rivas, a programação selecionada busca reacender o debate sobre o registro do sexo em sua explicitude, colocando em pauta tanto esses filmes contemporâneos quanto representantes da cinematografia erótica e pornográfica de décadas passadas, verdadeiros marcos na abordagem do tema pelo cinema, considerados audaciosos e controversos à época em que foram lançados. Estão presentes na seleção algumas obras cujas cenas de sexo causaram tanta polêmica que chegaram a levá-las a ser banidas ou censuradas em diversos países, como O Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci, e O Império dos Sentidos, de Nagisa Oshima. Em ambos os casos, a controvérsia gerada pelos filmes foi tão grande que seus diretores foram processados em seus países de origem.
A mostra também resgata filmes concebidos para o mercado pornográfico, mas que ao longo dos anos adquiriram um novo status, tornando-se autênticos cult movies, como Garganta Profunda e O Diabo na Carne de Miss Jones, ambos de Gerard Damiano, e Atrás da Porta Verde, de Artie e Jim Mitchell. Verdadeiros “clássicos” do cinema pornográfico, também chamados de porn chic ou cult porn, esses filmes pertencem à “Era de Ouro do Pornô”, ocorrida entre o início dos anos 1970 e o início dos 80, quando foram lançados dezenas de filmes pornográficos que atingiram um status mais prestigioso frente à crítica e ao público, levando aos cinemas uma parcela da audiência que sempre rejeitou obras do gênero, incluindo as mulheres.
A programação inclui ainda os autênticos blockbusters do sexo, filmes comerciais mais convencionais que fizeram sucesso entre o final dos anos 1980 e 1990 ao explorar o erotismo, como 9½ Semanas de Amor, de Adrian Lyne, e Instinto Selvagem, de Paulo Verhoeven, além de produções independentes dos anos 1990 e 2000 que se propuseram a testar os limites da exibição do ato sexual e das perversões nas telas, como Crash – Estranhos Prazeres, de David Cronenberg, Ken Park, de Larry Clark, 9 Canções, de Michael Winterbottom, e Shortbus, de John Cameron Mitchell. Como representante do cinema pornográfico atual e de suas múltiplas vertentes, a mostra exibe Five Hot Stories For Her, de Erika Lust, diretora integrante de um movimento europeu que, baseado nos pornôs chic dos anos 1970, busca produzir uma pornografia de qualidade feita por mulheres e para mulheres, por isso também chamada de pornô-feminista.
É interessante notar que, enquanto esses filmes trabalharam o ato sexual na chave do erotismo e da sedução, ou de forma realista, mas ainda na esfera da intimidade e da atração, outros utilizam o sexo com intenções opostas, representando-o de maneira repulsiva, proveniente de abusos físicos e psicológicos nos quais são ressaltados conflitos de gênero e classe. É o caso dos filmes Baixio das Bestas, de Cláudio Assis, que conta a história de uma cidade do interior onde os personagens parecem ser movidos pelo sexo e pela prostituição, e Salò ou os 120 Dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini, diretor já famoso por suas obras com forte apelo erótico, que nesse filme se inspira em um conto de Marquês de Sade para tratar o sexo como metáfora da violência dos regimes fascistas.
Dando continuidade à discussão sobre a pornografia no presente, a mostra apresenta uma sessão de curtas-metragens que utilizam cenas de sexo – explícito ou não – com viés experimental e/ou puramente estético, apontando novas formas de se pensar e registrar o sexo. Para discutir essas obras, alguns dos realizadores brasileiros destes curtas comparecem ao CINUSP para um bate-papo com o público no dia 13 de março, quinta-feira, após a sessão das 19 horas: Daniel Augusto, diretor do curta-metragem Porn Karaoke, que intercala o registro da ficção contemporânea com cenas de filmes pornográficos dos anos 1920, Gustavo Vinagre, desafiado a vivenciar e registrar experiências totalmente novas ao fazer um documentário sobre o poeta Glauco Mattoso em Filme Para Poeta Cego, e Juliana Dornelles, que faz uma declaração de amor carnal às cidades de Porto Alegre e São Paulo em Amor Com a Cidade. Outro debate promovido pela mostra acontece no dia 19 de março, após a sessão de O Império dos Sentidos, entre o crítico de cinema Christian Petermann e o doutorando em Literatura e Erotismo Ronnie Cardoso, no qual é colocada em pauta a utilização do sexo explícito em filmes autorais.
Confira a programação completa:
PROGRAMAÇÃO
06/03 | quinta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 O ÚLTIMO TANGO EM PARIS
19h00 KEN PARK
07/03 | sexta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 BAIXIO DAS BESTAS
19h00 SHORTBUS
MARIA ANTÔNIA
20h00 9 ½ SEMANAS DE AMOR
08/03 | sábado
MARIA ANTÔNIA
18h00 O IMPÉRIO DOS SENTIDOS
20h00 CRASH – ESTRANHOS PRAZERES
09/03 | domingo
MARIA ANTÔNIA
18h00 INSTINTO SELVAGEM
20h30 9 CANÇÕES
10/03 | segunda
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 CRASH – ESTRANHOS PRAZERES
19h00 GARGANTA PROFUNDA | O DIABO NA CARNE DE MISS JONES
11/03 | terça
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 9 ½ SEMANAS DE AMOR
19h00 9 CANÇÕES
12/03 | quarta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 KEN PARK
19h00 SALÒ OU OS 120 DIAS DE SODOMA
13/03 | quinta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 ATRÁS DA PORTA VERDE
19h00 ALMAS EM CHAMAS | DEU NO JORNAL | SKIN | COMO MELADO LAMBUZA | PORN KARAOKÊ | AMOR COM A CIDADE | FILME PARA POETA CEGO | DEBATE COM OS REALIZADORES DANIEL AUGUSTO, JULIANA DORNELLES, GUSTAVO VINAGRE
14/03 | sexta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 INSTINTO SELVAGEM
AUDITÓRIO A – PRÉDIO 4 (CINEMA, RÁDIO E TV) DA ECA/USP
19h00 NINFOMANÍACA
MARIA ANTÔNIA
20h00 GARGANTA PROFUNDA | O DIABO NA CARNE DE MISS JONES
15/03 | sábado
MARIA ANTÔNIA
17h30 O ÚLTIMO TANGO EM PARIS
20h00 KEN PARK
16/03 | domingo
MARIA ANTÔNIA
18h00 ALMAS EM CHAMAS | DEU NO JORNAL | SKIN | COMO MELADO LAMBUZA | PORN KARAOKÊ | AMOR COM A CIDADE | FILME PARA POETA CEGO
20h00 SHORTBUS
17/03 | segunda
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 ALMAS EM CHAMAS | DEU NO JORNAL | SKIN | COMO MELADO LAMBUZA | PORN KARAOKÊ | AMOR COM A CIDADE | FILME PARA POETA CEGO
19h00 BAIXIO DAS BESTAS
18/03 | terça
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 FIVE HOT STORIES FOR HER
19h00 INSTINTO SELVAGEM
19/03 | quarta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 9 ½ SEMANA DE AMOR
19h00 O IMPÉRIO DOS SENTIDOS | DEBATE COM CHRISTIAN PETERMANN E RONNIE CARDOSO
20/03 | quinta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 AZUL É A COR MAIS QUENTE
19h00 JOVEM ALOUCADA
21/03 | sexta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 SALÒ OU OS 120 DIAS DE SODOMA
AUDITÓRIO A – PRÉDIO 4 (CINEMA, RÁDIO E TV) DA ECA/USP
19h00 UM ESTRANHO NO LAGO
24/03 | segunda
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 SHORTBUS
19h00 FIVE HOT STORIES FOR HER
25/03 | terça
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 O ÚLTIMO TANGO EM PARIS
19h00 ATRÁS DA PORTA VERDE
26/03 | quarta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 JOVEM ALOUCADA
27/03 | quinta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 O IMPÉRIO DOS SENTIDOS
19h00 CRASH – ESTRANHOS PRAZERES
28/03 | sexta
CIDADE UNIVERSITÁRIA
16h00 9 CANÇÕES
19h00 AZUL É A COR MAIS QUENTE