O Festival de Sundance é conhecido por ser a vitrine perfeita par ao lançamento de filmes independentes, criativos e que fogem do tradicional. Em 2021, devido à pandemia de covid-19, o evento será híbrido e contará com sessões online e presenciais, sendo estas últimas uma minoria. Ao todo, serão exibidos 72 longas-metragens de 29 países e 38 diretores estreantes. 14 desses projetos receberam apoio do Sundance Institute para seu desenvolvimento. Vale ainda mencionar que a paridade de gênero foi alcançada, tendo um número semelhante de filmes dirigidos por homens e mulheres.
Mesmo menor, Sundance 2021 continua sendo uma lufada de criatividade para cinéfilos do mundo todo. Vale lembrar que filmes como Kajillionare, Possessor, Shirley e Minari foram lançados na edição de 2020. Por conta disso, listamos aqui alguns títulos que valem a pena ficar de olho e que podem ganhar importância ao longo deste ano:
CODA
Ruby (Emilia Jones) é a única pessoa que consegue escutar em sua família. Com 17 anos, ela trabalha para ajudar seus pais (Marleen Matlin e Troy Kotsur) e seu irmão (Daniel Durant) a manter o pequeno negócio de pesca da família funcionando. Contudo, ao entrar no clube de canto da escola, Ruby se sente atraída tanto por seu companheiro de classe (Ferdia Walsh-Peelo), quanto pelo ato de cantar. Seu professor percebe o talento da garota e a incentiva a entrar numa escola de música, sonho este que a obrigará a deixar para trás as obrigações com a família.
CODA é o segundo longa de Sian Heder, que assina o roteiro e a direção do filme. Com a ajuda de Marleen Matling, a diretora trouxe uma comunidade de atores surdos para o projeto, a fim de que eles pudessem guiar as performances que utilizam a linguagem norte-americana de sinais.
Passing
O filme é uma adaptação do romance homônimo publicado em 1929 pela escritora Nella Larsen sobre duas mulheres negras (Tessa Thompson e Ruth Negga) que vivem em Nova York. A diferença em seu tom de pele faz com que elas tenham experiências de vida distintas devido à “linha de cor”, conceito racista norte-americando que estipulava limites entre negros e brancos. Considerado um elegante thriller psicológico, Passing aborda temas como obsessão, repressão e as mentiras que as pessoas contam para proteger suas realidades milimetricamente construídas.
O título é a estreia na direção da atriz Rebecca Hall, que usa uma fotografia em preto e branco para destacar sua visão experimental na busca da felicidade e autenticidade por aqueles que navegam nas tensões opressivas do racismo nos EUA.
John and the Hole
Ao explorar a mata perto de casa, John (Charlie Shotwell), um garoto de 13 anos, descobre um bunker não concluído, ou seja, um grande buraco no chão. Sem motivo aparente ele droga seus pais (Michael C. Hall e Jennifer Ehle), sua irmã mais velha (Taissa Farmiga) e os aprisiona no bunker. Enquanto eles esperam o retorno do garoto para libertá-los, o adolescente volta pra casa, onde enfim pode fazer o que bem entender.
Originalmente selecionado para Cannes em 2020, o filme marca a estreia do artista visual Pascual Sisto na direção em Sundance 2021. Adaptado a partir de um conto homônimo, John and the Hole bebe dessa premissa inusitada para lançar reflexões sobre repressão de sentimentos e angústia adolescente. O título aparenta ser uma mescla de thriller psicológico e uma potente fábula de amadurecimento, ao acompanhar a passagem de John da liberdade infantil para as responsabilidades adultas.
A Nuvem Rosa
Tem filme brasileiro em Sundance 2021! Em A Nuvem Rosa Giovana e Yago são estranhos, que sentem uma conexão depois de se conhecerem em uma festa. Quando uma misteriosa e mortal nuvem rosa toma conta da cidade onde eles vivem, os jovens são obrigados a procurarem abrigo e a ficarem um longo período juntos e sozinhos. À medida em que os meses passam, uma quarentena é decretada e o casal é obrigado a refletir sobre o próprio relacionamento. Com todo o contato sendo mediado por telas e completamente isolados, Giovana e Yago lutam para se reinventar e conviver com as diferenças que ameaçam separá-los.
Produzido antes da pandemia do coronavirus, o filme não poderia ser mais semelhante às desventuras vividas atualmente. A diretora Iuli Gerbase e sua equipe criaram um estilo ambicioso para seu longa de estreia e acabaram por ambientá-lo numa realidade não muito distante que ecoa nossa vida em quarentena. O que era para ser uma ficção se transformou quase em um documentário.
One for the Road
Boss leva uma vida charmosa em Nova York como um popular barista que consegue seduzir um sem número de mulheres. Uma noite, ele recebe a ligação de seu amigo distante, Aood, que mora em Bangkok. Aood anuncia que está morrendo e pede que Boss volte para casa. Enquanto os dois viajam pela Tailândia mergulhados em memórias, segredos do passado são expostos. Ainda que Boss não saiba porque a amizade esfriou, essa é a última chance de Aood para revivê-la ou destruí-la de vez.
Com um perfeito equilíbrio de tristeza, alegria, nostalgia e romance, One for the Road, dirigido por Baz Poonpiriya e produzido por Wong Kar Wai, é uma grata surpresa. Boas performances aliadas a uma direção enérgica nos mantêm constantemente entre duas reflexões: a beleza da juventude e a dura certeza de que todas as coisas têm um fim.
Para saber mais sobre o Festival de Sundance 2021 dá um pulo aqui.
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