A 76ª edição do Festival de Cinema de Veneza já começou! Entre a lista dos 20 indicados ao Leão de Ouro, o grande prêmio da biennale, temos logas bastante aguardados, como Coringa, de Todd Phillips, e até mesmo a animação No. 7 Cherry Lane, de Yonfan, passando ainda pelo mais novo filme de Roman Polanski, J’Accuse. Mostrando que os longas produzidos por serviçoes de streaming vieram para ficar, temos ainda The Laundromat, de Steven Soderbergh e Marriage Story, de Noah Baumbach pela Netflix. Curiosamente, nesta edição temos Pedro Almodóvar – claramente contra as produções de streaming – recebendo o Leão de Ouro honorário. Polêmicas. O festival de Veneza vai até o dia 7 de setembro.
Confira os 20 indicados ao Leão de Ouro do Festival de Veneza
Babyteeth – Shannon Murphy
Apesar de uma lista bastante diversa quando o assunto são gêneros e temas, o festival conta apenas com duas diretoras em sua lista e, uma delas, é Shannon Murphy com Babyteeth. O longa conta a história de uma adolescente, Milla, que sofre de uma grave doença e que se apaixona por um jovem traficante. Lidando com a aversão dos pais ao relacionamento e uma série de pessoas complexas enfrentando seus próprios dramas ao seu redor, Milla tenta equilibrar sua vida e aproveitar o presente. O longa trabalha a questão vida/morte sob a óptica de: como você viveria se soubesse que não tem nada a perder?
The Perfect Candidate – Haifaa Al Mansour
A segunda produção assinada por uma mulher tem um tom crítico e político bastante forte. Se passando na Arábia Saudita, o filme conta a história da inesperada candidatura de uma jovem doutora às eleições comunais de sua cidade. Lidando com temas como tradição e machismo, Al Mansour retrata os conflitos que essa mulher precisa encarar, inclusive dentro de sua própria família, para fazer com que a comunidade aceite a primeira mulher a se candidatar no lugar.
The Truth – Hirokazu Kore-eda
Temos aqui o encontro de ninguém menos do que Catherine Deneuve e Juliette Binoche em uma história que narra a vida de Fabienne, uma estrela do cinema francês que se vê em um conflito com a filha após publicar suas memórias. Entre amores e ressentimentos, o longa aborda as relação familiares – especialmente entre mãe e filha – e o preço que uma vida de fama e glamour pode exigir, especialmente de uma mulher.
About Endlessness – Roy Andersson
Uma Sherazade atual. Roy Anderson, diretor de Um pombo pousou num galho refletindo sobre a existência, bebe da fonte do clássico para se aprofundar nos desejos, vulnerabilidades, belezas e crueldades da vida banal. Bastante atual, o longa mescla acontecimentos históricos com trechos do dia a dia, mostrando como a realidade não é uma dicotomia entre bem e mal, tragédia e esplendor, mas sim um entrelaçado de eventos acontecendo ao mesmo tempo.
Wasp Network – Olivier Assayas
O filme que tem o Wagner Moura. Claro que não se resume a isso, mas, aqui entre nós, é assim que ele tem aparecido para os brasileiros. Produzido por Rodrigo Teixeira – que, aliás, veio com tudo para esse Festival – o longa conta ainda com Penélope Cruz e se passa na Cuba de 1990. A história é sobre René González, homem que foge do país deixando mulher e filha para trás e pousa em Miami em busca de uma nova vida e da desestabilização do governo Castro.
Marriage Story – Noah Baumbach
Eis o representante da Netflix. Com Scarlett Johansson e Adam Driver, o filme tem rendido bons comentários. A história, apesar de simples, é bastante profunda: um casamento em frangalhos e duas pessoas que, apesar de talvez não funcionarem mais tão bem como casal, tentam manter sua família unida. Sobre como divórcios não precisam necessariamente ser sobre o fim do amor, mas até mesmo a manutenção dele.
Guest Of Honor – Atom Egoyan
Mais uma obra que retrata relações familiares em seu centro, dessa vez entre pai e filha. A história, estrelada por David Thewllis, aborda o conflito entre Jim, o pai, e Veronica, sua filha, após ela ser condenada por abuso de autoridade. Tentando lidar com a situação, Jim passa a refletir sobre a questão dentro de seu próprio trabalho e pontos como ética, poder e credibilidade entram em conflito quando vida pessoal e profissional se misturam.
Ad Astra – James Gray
O representante da vez da categoria “filmes com temática espacial” tem como protagonista Brad Pitt que, no longa, vive um astronauta que viaja aos confins do sistema solar em busca do pai perdido. Dirigido por James Gray, de Era uma vez em Nova York, o longa traz um retrato intimista sobre relações humanas, o nosso papel no universo e uma reflexão sobre a existência na Terra. Vale lembrar que o longa é produzido também pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, que vem ganhado cada vez mais notoriedade no cenário internacional.
A Herdade – Tiago Guedes
Representante português da disputa, o filme foca em uma família que possui uma das maiores propriedades da Europa. Usando a terra como ponto de partida e uma Portugal dos anos 1940, o longa traz aos poucos temas como economia, política e os movimentos passados pela sociedade portuguesa durante a década em questão.
Gloria Mundi – Robert Guediguian
O dinheiro, as relações humanas por ele afetadas e a política estão em alta nessa edição e Gloria Mundi é a prova disso. Uma família se reúne para o nascimento de um bebê, porém, nem mesmo o momento de felicidade consegue espantar alguns problemas e é por conta dele que o jovem casal precisa fazer alguns sacrifícios e até mesmo voltar a ter contato com uma parte não tão apreciada do clã.
Waiting For The Barbarians – Ciro Guerra
O longa é uma adaptação do livro de J.M. Coetze e conta a história de um juiz encarregado de um posto em uma fronteira que tem sua pacata vida atrapalhada pela chegada de um coronel que inicia um longo interrogatório sobre suas atividades. Quanto mais tempo ele passa, mais o juiz passa a sofrer uma crise de consciência ao ver a maneira com que o coronel trata as pessoas consideradas “bárbaras”. Vale lembrar que Guerra é o diretor do ótimo O abraço da serpente.
Ema – de Pablo Larraín
Olha aí o novo filme de Pablo Larraín já chamando atenção. Nessa trama, o diretor de No e Jackie, traz a história de Ema, uma jovem bailarina que vive em conflito após haver renunciado ao filho que adotou junto ao marido. Envolta pelo sentimento de culpa e saindo de um divórcio recente, ela entra em uma busca por amor e reparação enquanto caminha pelas ruas de Valparaíso.
Saturday Fiction – Lou Ye
Usando suas memórias de infância e baseando-se no livro Death of Shanghai, de Hong Ying, Lou Ye narra a história de Jean Yu, uma atriz que retorna à Shanghai de 1941 aparentemente por conta de um recital. Porém, as coisas não são o que parecem e a mulher tem uma missão a cumprir em sua viagem. Entre segredos e desconfianças, ela passa a debater se deve revelar o que descobriu ou fugir.
Martin Eden – Pietro Marcello
Um dos representantes italianos do festival, o longa de Pietro Marcello se aprofunda muito na história italiana e na relação entre a burguesia e a classe operária. Apaixonado por uma jovem burguesa, um rapaz com o desejo de ascender socialmente tenta se tornar escritor, porém, ao conhecer e se aproximar dos movimentos socialistas, a relação passa a entrar em conflito. Como toda boa história italiana recente, o cenário da obra é Nápoles (vide A amiga genial, que ganhou série da HBO).
La Mafia Non E Piu Quella Di Una Volta – Franco Maresco
A continuação de Belluscone, una storia siciliana, que foi apresentado durante o Festival de Veneza de 2014, volta a acompanhar Ciccio Mira. O documentário satírico utiliza a perspectiva da fotógrafa Letízia Battaglia com a de seu personagem principal para compreender o que permanece dos pensamentos e ideais dos juízes anti-máfia Giovanni Falcone e Paolo Borsellino – mortos pela máfia Siciliana em 1992 e que deram origem ao documentário anterior – e qual o cenário presente na atualidade.
The Painted Bird – Vaclav Marhoul
Rodado em 35 mm em preto e branco e baseado no romance de Jerzy Kosinski, o longa acompanha um menino no Leste Europeu ao final da Segunda Guerra Mundial. Sem esconder as brutalidades do conflito, a obra foca nos efeitos que ela tem em indivíduos comuns, especialmente crianças. Segundo a própria página da biennale, esse é, apesar do período em que se passa, um filme atemporal.
The Mayor Of Rione Sanita – Mario Martone
Outro competidor italiano, o longa de Mario Martone acompanha a jornada de Antônio Barracano, um homem que é tido como sinônimo de justiça onde vive. Quando um jovem com intenções de assassinar o próprio pai se apresenta a Martone, ele passa a tentar reconciliar ambos. O longa adapta a história de mesmo nome de Eduardo De Filippo, trazendo-a para uma roupagem mais jovem e atual.
Joker – Todd Phillips
O tão aguardado e comentado filme de origem do grande vilão das histórias do Batman também está na corrida. Com uma fotografia primorosa e a – aparente – ótima atuação de Joaquin Phoenix, a obra dá um novo olhar para o Coringa e aborda de uma maneira diferente o que teria feito com que um aspirante a comediante se tornasse o ser frio e cruel que conhecemos. Vale lembrar que tem bastante burburinho de uma possível indicação de Phoenix ao Oscar pelo papel.
J’Accuse – Roman Polanski
Roman Polanski. Apesar dos pesares, o nome do diretor ainda causa curiosidade quando se fala de uma obra feita por ele. Em seu novo longa, ele conta a história de Alfred Dreyfus, capitão do exército francês acusado de ser informante para os alemães. Condenado à deportação, as coisas ficam mais complexas quando seu acusador percebe que informações secretas continuam sendo passadas e que, talvez, ele tenha acusado um inocente. O longa se baseia no caso real ocorrido em 1895.
The Laundromat- Steven Soderbergh
Longa político com uma pitada jornalismo investigativo? Temos. Para começar, um elenco de peso: Meryl Streep,Gary Oldman, Antonio Banderas, Jeffrey Wright, Matthias Schoenaerts, James Cromwell e Sharon Stone. Junte a isso, o olhar de Steven Soderbergh – de Sexo, mentiras e videotape e da sequência Onze homens e um segredo – e o resultado é uma obra que se debruça sobre o caso Panamá Papers baseando-se no livro do jornalista Jake Bernstein. É o “outro longa da Netflix”.
No. 7 Cherry Lane – Yonfan
Uma animação assinada por um estreante que chamou a atenção no Festival de Toronto e que aborda um triângulo amoroso bastante complexo encerra a lista de indicados. Baseado em um conto do próprio diretor, o longa se passa na Hong Kong de 1960. Entre o crescimento econômico e os conflitos com a China, o filme conta a história de um estudante de literatura inglesa que se envolve num triângulo amoroso com a aluna a quem dá aulas e sua mãe.