Acontecendo tardiamente, devido à pandemia, a 9ª edição do Olhar de Cinema, Festival Internacional de Curitiba, acontece entre os dias 07 e 15 de outubro. Após muitas pesquisas focadas na adaptação do festival para o meio online, a programação do Olhar de Cinema conta este ano com 78 filmes, entre longas e curtas, sendo que destes 41 são brasileiros.

Excepcionalmente nesta edição, algumas mostras não serão realizadas como a Olhares Clássicos, a Olhar Retrospectivo e a Pequenos Olhares. Essa decisão respeita as barreiras impostas pelo digital e demonstra o cuidado que a equipe de organização do evento dedica à experiência do público. Entretanto, o festival disponibilizou gratuitamente dezenas de entrevistas, oficinas e seminários de maneira a enriquecer o contexto de produção cinematográfico.

O Cinemascope fará uma cobertura intensa do Olhar de Cinema e, para começar, selecionamos 7 filmes essenciais para assistir no festival. Vale lembrar que, ao comprar o ingresso para uma sessão online, os filmes escolhidos ficam disponíveis das 6h do dia de exibição até as 5h59 do dia seguinte. Todos os filmes falados em língua estrangeira possuem legenda em português.

Para onde voam as feiticeiras

Dirigido por Eliane Caffé, Carla Caffé, Beto Amaral, o filme de abertura do Olhar de Cinema acompanha um grupo de performers LGBTQIA+ em intervenções artísticas no centro de São Paulo. Suas ações são disparadoras de debates sobre desigualdades sociais, preconceitos e vidas marginalizadas, permeados pelas lutas dos movimentos negro, indígena, de ocupações urbanas. Com uma forma híbrida em contínua construção, o filme aposta menos na busca por respostas e mais no diálogo coletivo enquanto método e finalidade.

Festival Olhar de Cinema

Fakir

O último longa da cineasta Helena Ignez, tem como ponto de partida um livro de 2015 sobre faquirismo, uma arte da fome cujos intérpretes mais famosos chegavam a ficar 100 dias em jejum. O trabalho de Ignez mescla material de arquivo das décadas de 1920 a 1950 com cenas documentais e teatrais contemporâneas para explorar uma prática raramente exercida hoje em dia, mas que já atraiu multidões em países como França e Brasil.

 

 

Los Lobos

Para muitos, o isolamento social não é uma invenção da pandemia. Realizado antes de qualquer quarentena sanitária, Los Lobos se baseia nas lembranças da infância do seu diretor: um mexicano que, repentinamente aos cinco anos de idade, se vê habitando, com sua mãe e irmão mais novo, uma terra estranha (ironicamente chamada de Novo México) em outro país. Lá, enquanto a mãe sai para trabalhar, as crianças vivem confinadas ao interior de um pequeno e desconfortável apartamento. Assim como suas imaginações e engenhosidade, o cinema se torna uma expansão de experiências e máquina de gerar empatia.

Sertânia

Mais de 50 anos depois de realizar alguns dos essenciais documentários acerca do cotidiano do sertão nordestino e da vida dos migrantes oriundos de lá, Geraldo Sarno retorna a esse espaço com a liberdade e clareza que apenas a maturidade permite atingir. Não é exagero dizer que Sertânia conversa de igual para igual com Guimarães Rosa ou Marcel Proust em seus voos (e rastejos) pela memória e pela fabulação. A história de seu protagonista costura com precisão Canudos, como nosso “pecado original”, com a vida migrante no Sudeste e o cangaço. Não é pouco.

 

A Metamorfose dos Pássaros

No longa de estreia da portuguesa Catarina Vasconcelos, os mistérios habitam os detalhes. A passagem do tempo é sentida nas imagens da memória, presentificadas nos corpos e paisagens rigorosamente encenados para a câmera. Neste filme-ensaio afetivo, a escrita de si feminina, consciente de seu próprio caráter fabular, desdobra-se nas brechas de um caleidoscópio familiar: entre pai e filha, avó e neta, com a ausência espaçosa da palavra mãe.

 

Vento Seco 

No árido interior de Goiás, um triângulo amoroso é desencadeado pela chegada de um misterioso forasteiro, perturbando a pacata rotina de Sandro (Leandro Faria Lelo), funcionário de uma fábrica de fertilizantes. Em seu primeiro longa de ficção depois de dois documentários e vários curtas, o goiano Nolasco continua sua exploração da geografia do cerrado e do imaginário homofetichista. Apropriando-se, ao seu modo inconfundivelmente brasileiro, de elementos camp explorados por nomes essenciais do cinema queer, ele elabora um diálogo tórrido e ousado com os códigos melodramáticos. O filme foi exibido no Festival de Berlim 2020.

 

Antena da Raça 

Em 1979, enquanto o Brasil vivia o momento conturbado da Lei da Anistia, Glauber Rocha realiza para a TV Tupi o programa Abertura, no qual interroga de frente um Brasil contraditório e em ebulição, pleno de utopias mas sempre sob o peso de chagas seculares. Quarenta anos depois, sua filha Paloma e o parceiro Luís Abramo voltam a esse material, recentemente restaurado, e o colocam em fricção com cenas do cinema de Glauber – mas também com imagens do Brasil de 2018: um país ainda conturbado e contraditório, que parece perseguir o rabo de sua própria história. O longa encerra o festival.

Você confere a programação completa do Festival Olhar de Cinema aqui.

 

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