A opulência do Hermitage Museum (antigo palácio do Czar) ganha ainda mais potência pelas lentes do cineasta Alexander Sokurov. Arca Russa, de 2002, é uma obra formidável, em que cinema, arte e história são enlaçados na construção de uma narrativa que enfoca o conceito de eternidade.
Em um travelling de aproximadamente 1h30, a câmera subjetiva – conduzida por um narrador do século XXI que nunca se apresenta – guia-nos pelas 35 salas do museu, conduzindo-nos em uma viagem pela história russa entre os séculos XVIII até XXI.
Durante o Arca Russa revivemos alguns episódios importantes da história do país e somos apresentados a algumas figuras centrais do período monárquico: Czar Pedro, o Grande; Czarina Catarina II, a Grande; Czar Nicolau II; a recepção do embaixador da Pérsia no salão nobre do respectivo museu; cerimônias solenes como a última ceia dos Romanov, e assim por diante.
Acompanhamos estes eventos ao lado de um diplomata europeu do século XIX. Este, realiza elucubrações sobre a Rússia, questionando as suas formas de organização política e social, seus valores éticos e estéticos, o bom gosto e a cultura elevada, a sua relação com o continente Europeu etc.
Não há uma sequência cronológica e linear nos fatos narrados, ao contrário, o diretor vai compondo Arca Russa em camadas que se aproximam e se distanciam. O conceito de eternidade é trabalhado pelo diretor ao avançar pelas salas do Hermitage. Sabe-se que o museu é o espaço onde a cultura e a memória resistem: onde a história permanece. De modo análogo, algumas reflexões sobre a arte lidam, de certo modo, com a ideia de eternidade. Muito se fala quando o artista materializa um instante. A obra passa então, a carregar a marca desse momento.
O filme parece tratar de um passado não elaborado, fragmentado. A busca de uma identidade russa, permanentemente interrompida devido aos lapsos e cortes produzidos pela sobreposição dos acontecimentos. Ao mesmo tempo, o modo de filmagem, em um plano contínuo, impele os fatos, mesmo que não resolvidos, a um futuro incerto.
A última sequência dá sentido ao título Arca Russa, – além é claro das referências bíblicas – como se o Museu Hermitage se transformasse em uma grande arca, que navega pelo oceano em meio a uma tempestade caótica. Parece fazer referência aos períodos conturbados que a Rússia viveu durante o século XX, com seus massacres e guerras.
Com seus vigorosos efeitos estéticos, uma grande direção de arte e fotografia, o filme é uma produção experimental, descompromissada com os padrões cinematográficos dominantes. Arca Russa é um filme imponente que busca retratar um recorte da história de um país através do olhar de um diretor.
A cinematografia de Arca Russa é abordada no curso Introdução à Linguagem Cinematográfica, ministrado pelo professor Donny Correia. Mais informações no link abaixo.
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