Depois de uma leva de filmes adaptados de obras literárias tendo como carro chefe as sagas O Senhor dos Anéis e Harry Potter, a moda migrou gradualmente para adaptações de histórias em quadrinhos. Com isso, o universo Marvel e o universo DC, as duas grandes empresas do ramo, começaram a disputar espaço também nas telonas.
A DC vinha de uma boa safra, puxada pela trilogia O Cavaleiro das Trevas criada por Christopher Nolan entre os anos de 2005 e 2012. Tendo como ápice Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) que é considerado até hoje um dos melhores filmes do gênero, consagrado com indicações ao Oscar, com destaque do prêmio póstumo a Heath Ledger, e bilheteria alta.
A Marvel, por sua vez, inicia em 2008, com o lançamento de Homem de Ferro, um plano de universo compartilhado, com o surgimento de heróis até então inéditos nas telonas e que se uniriam numa equipe. O primeiro encontro foi com Os Vingadores (2012) que foi a primeira prova clara que o plano daria certo. O ápice foi recentemente com Vingadores: Ultimato (2019) que quebrou recordes de bilheteria e brigas pela internet e ao vivo com quem revelasse spoilers do filme.
Com todo esse sucesso da Marvel e o bem sucedido projeto de Nolan restrito a apenas três filmes, a DC começou a correr atrás do prejuízo. Nesse momento surge uma possível salvação chamada Zack Snyder.
O TEOREMA ZACK SNYDER
Depois de bem sucedidas adaptações de quadrinhos para o cinema com X-Men: O Filme (2000) e X-Men 2 (2003) o diretor Bryan Singer resolveu largar o universo Marvel e tentar a chance com uma nova adaptação no cinema com Superman: O Retorno (2006). A coisa não deu muito certo e desagradou público e crítica.
No mesmo ano, uma outra adaptação de quadrinhos fazia grande sucesso por ser quase que uma transposição literal da obra original para as telas: 300 (2006). Pouco tempo depois, seu diretor, Zack Snyder ainda faria outra adaptação considerada muito difícil, que iria agradar a maioria dos fãs: Watchmen: O Filme (2009). O longa trazia uma versão realista de como o mundo seria se super-heróis existissem de verdade. Mais uma vez a adaptação parecia uma transposição quase literal das histórias em quadrinhos.
Com esse histórico, apesar de um questionável Sucker Punch: Mundo Surreal (2011), Snyder parecia ser uma escolha acertada para uma nova adaptação do Superman para as telas, e foi. Seguindo a linha mais realista do universo do Batman de Nolan, Snyder construiu uma versão mais sombria e real para o super herói em Homem de Aço (2013). Tirou a cueca vermelha de cima das calças azuis, com prédios sendo destruídos enquanto ocorre um duelo entre dois seres extraterrestres e fez o mocinho matar o vilão. Palmas para Snyder.
Como na época do lançamento do filme do Snyder já estávamos com um universo dos Vingadores em andamento (em 2012 tinha sido lançado Os Vingadores e em 2013 Homem de Ferro 3 e Thor: Mundo Sombrio) ficava claro que teríamos duas tendências: o universo Marvel seria colorido e divertido; já o universo DC, baseado em Homem de Aço e no recente sucesso da Trilogia do Cavaleiro das Trevas (que na época ainda haviam especulações de que ela entraria no novo universo DC) seria sombrio e realista. Bom, era o que se esperava até aqui. Tudo mudaria anos mais tarde num duelo que daria o que falar e foi o divisor de águas no universo DC.
O projeto seguinte era desafiador e já tinha sido especulado durante anos por produtores e nerds aficcionados: a briga de forças entre Batman e Superman. O filme seria Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) e, novamente, Zack Snyder seria o diretor do esperado longa. Porém, as coisas não deram muito certo. O filme foi lançado, mas deixou público e crítica bem divididos quanto à nota final do duelo de titãs.
BATMAN vs SUPERMAN: A ORIGEM DA JUSTIÇA
Batman vs Superman tinha difíceis missões. O primeiro, como já disse, era competir com os recentes sucessos da Marvel, principalmente o dos Vingadores, que tinha encontrado uma fórmula própria de sucesso e que arrastava grandes massas para os cinemas, resultando em faturamentos altíssimos. Em seguida, ser a continuação de Homem de Aço, apresentar um novo Batman e os novos membros da Liga da Justiça.
Bom, o novo Batman já teve problemas desde a escolha do novo ator que o interpretaria. Ninguém, principalmente os fãs do homem-morcego, colocaram muita fé na escolha de Bem Affleck como herói. A única coisa aceitável era o queixo. O comentário das redes sociais da época era: “ao menos ele tem queixo de Batman”. Como Batman ele se saiu muito bem. É uma das encarnações mais legais do cinema. O problema é que, quando ele é Bruce Wayne, não passa muita credibilidade, só é possível ver Ben Affleck.
O filme ainda tinha que dar uma brecha para os demais heróis que iriam aparecer em Liga da Justiça (2017). Na contramão da concorrente, a DC escolheu mostrar Ciborgue (Ray Fisher), Aquaman (Jason Momoa), Flash (Ezra Miller) e Mulher Maravilha (Gal Gadot) todos de uma vez no meio da porradaria dos dois gigantes. Mulher Maravilha teria uma participação efetiva aqui, em parte estragada pelos trailers que entregavam sua aparição, os demais teríamos apenas um gostinho do que poderia ser. Ficou muita coisa para um filme só.
Além disso, muitas das decisões, tanto para Batman vs Superman, quanto nos demais filmes do universo DC e principalmente em Liga da Justiça, foram tomadas tendo como parâmetro os recentes sucessos dos Vingadores. O lado sombrio foi afetado pelo universo colorido e divertido da Marvel que tinha encontrado um padrão próprio de qualidade, como já dito anteriormente. Ao invés de seguir essa linha própria, a DC optou por suavizar aos poucos os acontecimentos e as escolhas que viriam a seguir. Como resultado, ficou uma coisa meio atropelada, algumas elementos questionáveis e sem entender muito bem o porque das escolhas que vamos conversar um pouco mais a seguir.
O PROBLEMA MARTHA
Bom, muita gente apontou esse como o maior problema de Batman vs Superman. O fato de a luta entre os dois heróis terminar com a descoberta de ambos terem mães com o mesmo nome. Esse plot é até interessante e compreensível. Imagina que seus pais foram mortos e, com a herança que eles deixaram, ao invés de procurar um psicólogo você resolve se fantasiar de morcego e sair por aí batendo em bandidos.
Anos depois, você já está velho, cansado, mais rabugento que nunca, nem se importa se os bandidos estão morrendo. Ai, você resolve voltar a ativa para tentar deter um cara que possivelmente pode te matar e no meio do embate, ele fala o nome da sua mãe. É plausível dar uma desconcertada mesmo.
O problema é o que vem a seguir. De repente, o Batman se torna bonzinho. Quase um colega de infância do Superman. Certamente, sendo ele um herói, não iria deixar de salvar a mãe do Clark. Mas, o fato dele ter uma mãe, não deveria fazer com que Superman deixe de ser uma ameaça. O desandar vem exatamente aí. O personagem Batman anda sempre muito desconfiado e preparado para impedir até mesmo seus amigos heróis. Tudo que foi construído até aqui no filme, a raiva e a desconfiança de Bruce Wayne / Batman com relação ao ser que veio do espaço parecem ter sido esquecidas. Em minutos, Bruce esquece as razões que o levaram até ali.
A partir daí, Superman e Batman tornam-se uma dupla e partem para salvar Martha Kent (Diane Lane) e impedir Lex Luthor (Jesse Eisenberg). Surge a Mulher Maravilha para ajudar a derrotar o monstro que Lex havia criado, e que os trailers, mais uma vez, já haviam estragado a surpresa. A esperança que Superman representava morre junto com ele e Batman fica bonzinho e arrependido. Depois disso, fim do lado sombrio e realista do universo DC, que ficaria apenas na estética dos próximos filmes.
UNIVERSO DC: LIGA DA JUSTIÇA
Depois de uma recepção morna e dividida de Batman vs Superman: A Origem da Justiça, que, segundo o diretor, sofreu diversas mudanças da ideia original pelo estúdio, chegou a vez de Liga da Justiça ver a luz do dia. Como dito anteriormente, após o “momento Martha”, o universo DC perdeu a identidade que tinha inicialmente. Tudo ficou mais leve e divertido, puxado para os padrões da concorrente Marvel. Até mesmo o traje do Batman, em um certo momento, se torna mais lúdico com tons de prata.
O melhor exemplo da busca dessa leveza, está no personagem Flash, interpretado por Ezra Miller. A sua relação com o Batman é quase uma de pai e filho, muito parecida com a que foi construída entre Homem de Ferro e Homem-Aranha no universo Marvel e mais especificamente em Homem Aranha: De Volta ao Lar (2017). Além disso, tanto Flash quanto o Aranha são representações do público infantojuvenil, que é o principal consumidor desse tipo de filme. É como se alguém que cresceu assistindo a Vingadores de repente fosse chamado para participar de um grupo de super-heróis.
Talvez o único diferencial positivo de Liga da Justiça sejam as funções desempenhadas dentro do grupo. Enquanto em Vingadores não parece haver uma distinção muito clara entre as habilidades dos membros da equipe, em Liga da Justiça, temos funções bem específicas para cada um. Superman e Mulher Maravilha ficam por conta de enfrentar os figurões que vem de espaço e Aquaman dá cobertura; Batman bola os planos e coordena a equipe, Flash salva os reféns e Ciborgue trata das tecnologias tanto terrestres quanto alienígenas já que ele é parte dos dois.
No fim, nessa salada de mudanças, o filme se tornou um episódio gigante da série animada Liga da Justiça (2001 – 2004). Aquela que a gente assistia quando era mais novo e almoçava chegando da escola ou se preparando para ir. Ou um filme de ação sem muito peso e que a gente assiste só para reunir a galera. Perdeu qualquer possibilidade de uma identidade própria.
Ah, e além disso tudo, no meio do projeto Zack Snyder precisou sair por questões pessoais e quem assumiu foi justamente Joss Whedon, diretor de Vingadores e Vingadores: Era de Ultron (2015). Nem precisa dizer mais nada.
Está sendo prometido há muito tempo também um corte do Snyder do filme. Inclusive, aconteceu a campanha Release The Snyder Cut (Liberem o corte do Snyder), em que público e até atores da produção pediram para que seja liberado a versão original do diretor sem as interferências do estúdio. O projeto, segundo os próprios envolvidos, era algo muito melhor do que o que foi visto nas telas.
O UNIVERSO DC PÓS-LIGA DA JUSTIÇA
Depois de Liga da Justiça as coisas desandaram de vez. Ben Affleck, que a princípio tinha um projeto de um novo filme do Batman com ele como protagonista, roteirista e diretor, acabou abandonando o plano e o papel. O plano seguinte da DC foi abandonar, ao menos por enquanto, o universo compartilhado dos heróis e trabalhar o de cada um separadamente.
Com isso, o próximo filme a ser lançado foi Aquaman (2018) em que os eventos de Liga da Justiça pareciam apenas uma aventura de final de semana com uma citação bem rápida. Depois foi apresentado Shazam! (2019) que, apesar de citar a Liga, construiu o filme e suas possíveis continuações focando apenas no próprio universo. Inclusive, já tem um filme prometido há algum tempo com o Adão Negro, um outro personagem do universo do herói, que será interpretado por The Rock.
No meio do caminho também tivemos o Esquadrão Suicida (2016) que buscava um universo próprio dos vilões. Devido às mesmas interferências e incertezas do universo da Liga, acabou sendo o melhor exemplo de trailers que são melhores que os próprios filmes.
O único sucesso mesmo do longa foi a Arlequina (Margot Robbie) que entrou de vez para o universo pop sendo presença constante em diversas festas a fantasia pelo mundo. Foi tanto que ela ganhou um filme focado nela: Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa (2020). Apesar de sucesso de crítica, não arrecadou o esperado pelos estúdios e também tem um futuro incerto em se tratando de possíveis continuações.
Além desses, ainda tivemos o filme solo do vilão do Batman, Coringa (2019). Até então, o que se sabe é que foi um filme independente. Que ele não teria qualquer ligação com os eventos passados e futuros do universo DC. Mas, isso é o que sabemos até então.
UNIVERSO DC: PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
Apesar de todo esses fracassos temos projetos futuros a caminho. Mulher Maravilha 1984 já estava programado para ser lançado em 5 de junho de 2020 foi adiado para 14 de agosto desse mesmo ano devido à pandemia de Covid-19 que adiou o lançamento de diversos outros filmes.
Um novo Esquadrão Suicida está sendo rodado com a direção de James Gunn que é o diretor de Guardiões da Galáxia (2014) e Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017). No caso desse projeto, não está muito claro se será uma continuação ou um reboot do universo dos vilões. Margot Robbie repete seu papel como Arlequina.
Depois de Ben Affleck deixar de ser o Batman, mais uma vez surgiu a polêmica com a escolha do novo intérprete. O nomeado da vez foi Robert Pattinson, que ficou bem famoso principalmente pela saga Crepúsculo e foi justamente esse o ponto da polêmica. Mas o ator, depois da saga, trabalhou em filmes de diretores conceituados num lado mais independente. A direção fica por conta de Matt Reeves que dirigiu recentemente a ultima trilogia de Planeta dos Macacos. O filme já está em produção e já foi lançado algumas artes e fotos do set do filme.
Além desses ainda estão para iniciar suas produções os filmes Adão Negro, que será um vilão de Shazam, e um possível filme solo do Flash. Possível porque sempre surgem notícias e rumores do filme solo do velocista, mas nada de muito concreto. O último rumor é que o longa envolveria uma viagem no tempo que apagaria os acontecimentos de Batman vs Superman e Liga da Justiça, que foram justamente os pontos fracos desse universo DC.
BÔNUS
No canal do Cinemascope no YouTube falamos sobre o universo particular do Coringa desde sua criação nos quadrinhos até o recente filme estrelado por Joaquin Phoenix. Dá uma conferida que está completissimo!
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