Mediados apenas por posts, fotos, números de likes, views e seguidores, a noção que temos dos influenciadores digitais é um estilo de vida perfeito, permeado de uma felicidade superficial e mimos de patrocinadores.

A lógica das redes sociais é essa, só o lado bonito de nossa existência prevalece, frustrando as pessoas por ser tão distante da vida real, sendo uma ideia de sucesso inalcançável até mesmo para aquela conta de Instagram com milhares de seguidores.

É com afinco que o diretor Magnus von Horn mostra todo o abalo emocional que o estilo de vida de uma influenciadora digital pode repercutir nela mesma, ao fazer aqui (no longa/no curta) um estudo de personagem bastante presente.

Em Suor (2020), acompanhamos três dias da influenciadora Sylwia (Kolesnik), que consistem basicamente em como ela interage com seus seguidores, com sua família e seus relacionamentos. O que fica nítido é a solidão profunda que essa dinâmica causa.

Roteirizado pelo próprio diretor, Suor foge de criar um estereótipo em cima da protagonista, de alguém totalmente fútil e desconexo da realidade. Sylwia é aquele típico perfil fitness que enquanto faz flexões ou polichinelos, faz discursos rasos sobre “acreditar em você mesmo” ou “ter boas energias”. Porém, a protagonista parece realmente demonstrar um carinho pelos seus seguidores, ao abraçá-los, tirar selfies e se emocionar com suas histórias de superação, o que a humaniza bastante e demonstra seu genuíno afeto por pessoas, e não por seguidores.

Mesmo essas interações presenciais e outras milhares no mundo digital, Sylwia em sua privacidade se revela uma pessoa bastante carente e melancólica, evidenciando uma tristeza palpável completamente oposta ao que mostra em suas redes sociais.

A tristeza e fragilidade humana não são atraentes para o consumismo que sobressai no seu feed e retroalimenta essa felicidade plástica das redes sociais. É uma lógica forçada pelo marketing, já que o único post da protagonista em que se mostra frágil e triste por não ter um namorado que a ame é “fora de contexto” para um dos patrocinadores dela.

A direção de von Horn consegue refletir bem a ideia de como as pessoas precisam ser encorajadas o tempo todo nesse universo digital, com curtidas e visualizações. A câmera na mão é frenética e ecoa esses estímulos de aceitação que nos viciam e incentivam a sempre querer mais e mais.

Por isso, Sylwia nunca parece contente com a atenção que tem. Uma questão que deve surgir por conta da fria relação com sua mãe, Basia (Konieczna). Na sequência bastante desconfortável em que Sylwia vai para o aniversário da mãe, percebemos que mesmo a protagonista se esforçando para agradá-la, sua mãe se mantém distante e pouco à vontade com a filha, sugerindo uma falta de afeto desde sempre. Seja em momentos de desentendimentos ou com pequenas observações (“sempre tive enjoo quando estava grávida de Sylwia”, Basia fala em determinado momento).

Outra questão que Suor levanta é como o excesso de interação nas mídias sociais parece atrapalhar nossas relações na realidade, nos tornando, ironicamente, pouco comunicativos e confusos. Jamais se entende bem a relação que a protagonista tem com o assistente de treino dela, Klaudiusz (Swiezewski). Mesmo quando conversam, são diálogos diretos que trocam entre si.

Até mesmo a relação da protagonista com um stalker (Orpinski) é dúbia: ela claramente se refere a ele com um tom de repugnância, mas ainda preserva um certo fascínio, quase como um atestado da sua fama e relevância.

Criando uma atmosfera que dosa a câmera inquieta com planos parados que ressaltam o tédio e desalento que Sylwia transmite, o cineasta também utiliza com abundância os closes, que valorizam o trabalho de Magdalena Kolesnik. Mesmo ao sorrir para uma selfie, Kolesnik evoca um vazio presente.

Ao encerrar com um momento também ambíguo (sua fala final demonstra superação ou conformação?), Suor é bem sucedido em exibir uma faceta muito mais dolorosa e solitária de uma personagem que aparenta superficialidade, mas possui várias camadas.

*Essa crítica faz parte da cobertura do Cinemascope da 44a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Suor

Ano: 2020
Direção:  Magnus von Horn
Roteiro: Magnus von Horn
Elenco principal: Magdalena Kolesnik, Julian Swiezewski, Aleksandra Konieczna, Zbigniew Zamachowski, Tomasz Orpinski
Gênero: ​Drama
Nacionalidade: Polônia; Suécia

Avaliação Geral: 3,5