Por Felipe Mendes e Joyce Pais

Como de costume há quatro anos, votamos nos filmes que mais nos chamaram a atenção durante o ano que passou. O sistema de pontuação adotado é o mesmo e caso você ainda não conheça, pode dar uma conferida aqui, nas observações. Dessa vez, dos 19 membros da nossa equipe, 11 votaram, e ao todo 63 filmes foram mencionados.

Impossível deixar de comentar a nossa felicidade em perceber que a ótima fase que o cinema brasileiro vive reverberou nessa lista, já que tivemos de forma inédita dois filmes no ranking, na primeira e oitava colocação. Outra novidade, que eu chamaria de ‘sinal dos tempos’, é a presença na votação do filme The Fundamentals of Caring, produzido e distribuído pela Netflix, bacana, não?

Como sempre a diversidade predominou e refletiu muito do que somos no Cinemascope: uma equipe formada por pessoas com diferentes gostos, referências e inclinações. Ficou curioso? Então vamos lá 🙂

 

10° Capitão Fantástico

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Capitão Fantástico é um dos grandes road movies deste ano. Bem recebido em festivais como Cannes e Sundance, o filme procura incitar a reflexão do espectador sobre as banalidades da vida. A trama gira em torno de Ben (Viggo Mortensen) e seus filhos, que vivem em meio à floresta, afastados da vida urbana e tecnológica dos tempos modernos. Inclusive, existem críticas ao american way of life por todas as partes. Após cenas de caça à luz do dia e encontros noturnos regados a leituras e boa música, os rumos de Capitão Fantástico são alterados com a notícia da morte da mãe das crianças. O ocorrido faz com que eles enfrentem o embate de voltar a civilização para ir ao funeral dela, enfrentando a fúria do próprio avô. A boa atuação postula Viggo Mortensen a forte candidato para a disputa de Melhor Ator no Oscar 2017.

9° A  Chegada

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Firmado como um dos grandes nomes do cinema contemporâneo, o canadense Denis Villeneuve apostou em um gênero diferente desta vez, e não decepcionou. A Chegada, sua última produção, é mais uma ficção-científica a alcançar grande sucesso de público e crítica. Na trama, a Dra. Louise Banks (Amy Adams), uma das principais especialistas em linguística nos Estados Unidos, é recrutada pelo exército para criar contato com alguns alienígenas que invadiram o Planeta Terra. Ao lado do matemático Ian Donelly (Jeremy Renner), ela tenta compreender as intenções dos extraterrestres que causam pavor nos principais centros do mundo. A Chegada está cotado para figurar em algumas categorias do próximo Oscar, como Melhor Filme, Diretor e Atriz.

8° Boi Neon

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Premiado em festivais mundo afora, Boi Neon apresenta uma gama de personagens ricos no sertão brasileiro. Neste ambiente, não existem apenas machões ou mocinhas; os conceitos pré-estabelecidos são reescritos no filme de Gabriel Mascaro. O vaqueiro Iremar (Juliano Cazarré), por exemplo, alimenta o sonho de ser estilista ao desenhar os trajes da dançarina Galega (Maeve Jenkings). Enquanto o homem costura e passa roupa, a mulher é quem dirige e, ainda por cima, faz às vezes de mecânica do caminhão. Além das quebras de paradigmas, Boi Neon ganha vida através de uma direção de fotografia exercida audaciosamente por Diego Garcia, caracterizando-se como uma grande força do cinema brasileiro contemporâneo.

7° Carol

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Ovacionado em Cannes, Carol é uma adaptação do livro semiautobiográfico The Prince of Salt, de Patricia Highsmith. Dirigido primorosamente por Todd Haynes (Longe do Paraíso), o filme apresenta o desenrolar de uma história de amor “proibido” entre duas mulheres na década de 50. Insatisfeitas em suas relações, Carol (Cate Blanchett) e Therese (Rooney Mara) se conhecem, trocam flertes, abandonam seus pares e passam a dividir cada vez mais o tempo juntas. Além das belas performances da dupla protagonista, o longa apresenta uma fotografia incrível, exercida por Edward Lachman. Se outrora este tipo de produção seria discriminado por boa parte do público, agora ganha cada vez mais relevância no meio cinematográfico – Carol é um ótimo exemplo disto.

6° Rogue One: Uma história Star Wars

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Qualquer material que tenha algum tipo de relação com a bem sucedida franquia Star Wars já é motivo de alarde. Com o spin-off Rogue One não foi diferente. O filme dá conta de explicar algo inédito até então no cânone de Star Wars: como os planos da Estrela da Morte foram adquiridos pelos Rebeldes, além disso, a história se encaixa com o Star Wars: Rebels, que é o desenho que tá rolando agora. Depois de vermos Daisy Ridley vivendo a personagem Rey e estando no centro da narrativa de Star Wars: O Despertar da Força, foi a vez de confirmar o destaque para as personagens femininas com Felicity Jones na pele de Jyn Erso. A triste e inesperada morte da atriz Carrie Fischer recentemente só reforçou toda a aura em torno deste universo e, é claro, relegou um tom mais emotivo a aparição da Princesa Leia em CGI, tal como esteve no episódio IV.

5° O Abraço da Serpente

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O indicado ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira de 2016 apresenta uma aventura profunda nos meandros da Amazônia colombiana. Baseado nos diários do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg e do biólogo norte-americano Richard Evans Schultes, O Abraço da Serpente exibe culturas desconhecidas da floresta a partir do ponto de vista dos indígenas, representado pelo xamã Karamakate, interpretado por dois nativos: Nilbio Torres e Antonio Bolívar. Durante a jornada, a produção em preto e branco contrasta tempos distintos da floresta, da ganância do homem branco pela extração de borracha às comunidades religiosas que chegaram na selva. Sem dúvidas, uma produção urgente e necessária.

4° Doutor Estranho

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Não é de hoje que Benedict Cumberbatch chama a atenção por onde passa e se destaca nos papéis que interpreta, quase sempre carregados de drama e atuações contundentes. Mas quando se trata de um universo tão grandioso quanto o da Marvel, a coisa pode ser bem diferente, já que mexe com o imaginário de uma legião de fãs pelo mundo (que inevitavelmente farão comparações) e, principalmente, movimenta MUITO dinheiro. Mas com Doutor Estranho ele não só ganhou o nosso quarto lugar, como acumulou elogios vivendo Stephen Strange, um neurocirurgião que vê sua vida mudar após sofrer um acidente. Ele parte para um lugar inesperado em busca de cura: Kamar-Taj. Ao descobrir que lá é também a linha de frente contra forças malignas místicas que desejam destruir nossa realidade, passa a treinar e adquire poderes mágicos, mas precisa decidir se volta para sua vida normal ou defende o mundo. O filme conta com nomes de peso como Chiwetel Ejiofor e Tilda Swinton no elenco.

3° Animais Fantásticos e Onde Habitam

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O oscarizado Eddie Redmayne parece ser um dos novos queridinhos de Hollywood. Em Animais Fantásticos e Onde Habitam, ele vive o excêntrico magizoologista Newt Scamander que chega à cidade de Nova York levando com muito zelo sua preciosa maleta, um objeto mágico onde ele carrega fantásticos animais do mundo da magia que coletou durante as suas viagens. Em meio a comunidade bruxa norte-americana, Newt usa suas habilidades para capturar uma variedade de criaturas que acabam fugindo. Mais um filme derivado de um universo já conhecido, nesse caso o do Harry Potter, o que significa uma quase certeza de sucesso. Mas aqui não houve acomodação e o trabalho desempenhado superou até, reza a lenda, a altíssima expectativa dessa comunidade de fãs fervorosa.

2° O Quarto de Jack

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Após relevante projeção cinematográfica com o cultuado Frank, o cineasta irlandês Lenny Abrahamson se aventurou abordo de O Quarto de Jack, baseado no romance de Emma Donoghue (a escritora também assina o roteiro do longa), conquistando público e crítica. Com ares poéticos, o filme imerge na vida do garoto Jack (Jacob Tremblay), que acabara de completar seu quinto aniversário, e de sua mãe, magistralmente interpretada por Brie Larson. Na obra, a câmera subjetiva acompanha diligentemente cada passo do menino dentro do pequeno cubículo onde vivem. Vencedor de um Oscar e nomeado a outros três, O Quarto de Jack foi uma das ótimas surpresas deste ano, conquistando também o segundo lugar do nosso ranking de 2016.

1° Aquarius

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Arrematando prêmios e reconhecimento da crítica especializada por onde passou, Aquarius marcou a volta estonteante de Sônia Braga pro cinema, foi mais um êxito incontestável do diretor pernambucano Kléber Mendonça Filho, após O Som ao Redor, além de ter levantado bandeiras políticas com um ousado (e polêmico) protesto do tapete vermelho do festival de Cannes, no qual eles defendiam que o Brasil estava sofrendo um golpe de estado, se referindo ao processo de impeachment que a ex-presidenta Dilma estava sofrendo na época. Sucesso de público e crítica, o filme ainda sofreu um golpe (TÁ-DÁ) quando, a despeito de seu favoritismo, o indicado para representar o país como indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro foi Pequeno Segredo. Não importa, para nós do Cinemascope, Aquarius é absoluto, não á toa ganhou com larga escala a primeira posição em nossa lista <3