George Orwell não deve ter imaginado, nem em seus pesadelos mais malucos, que graças à sua obra mestra teríamos o reality show mais assistido do país, devido a uma pandemia. Em 1949 Orwell publica 1984 e, em 2002, estreia na Globo o Big Brother Brasil.
O que as duas coisas tem a ver uma com a outra? O grande irmão, criado por George Orwell, tudo vê, tudo ouve e tudo pode. Mas, diferente do livro distópico, onde o poder está nas mãos do Estado para controlar qualquer insurreição política contrária aos interesses do Partido, na Globo o poder serve, a princípio, para o entretenimento.
A narrativa de George Orwell (recriada no cinema por Michael Radford em 1984) não trabalha com otimismo ou finais felizes. Os cidadãos são submetidos à vontade onipresente do Estado figurado no controle do Grande Irmão e a individualidade e os desejos de cada indivíduo são anulados. A obra é uma alegoria sobre o totalitarismo.
As teletelas de George Orwell
O Grande Irmão de George Orwell via e ouvia tudo através das Teletelas instaladas obrigatoriamente na casa de todos. A tela era suficientemente grande para que o olho que tudo vê pudesse ter acesso à totalidade da casa, com exceção de um pequeno canto atrás dela, passível de corromper o sistema.
A vigilância constante era capaz de reduzir a natureza humana à ação do poder tirânico e de opressão. Neste cenário, a religião e as emoções são descartadas.George Orwell mostra a eliminação do humano através da negação de sua humanidade e emoções, fazendo com que deixe de ser o que é por natureza e adquira postura robótica.
O Big Brother, enquanto franquia, tem como premissa a mesma vigilância, colocando participantes pré-selecionados por uma produção dentro de uma casa vigiada 24h por dia, sem contato com o mundo externo, protocolo quebrado na edição de 2020 devido ao avanço da pandemia do COVID-19.
O Grande Irmão e o BBB20
O reality, assim como a obra deGeorge Orwell, age como um sistema comportamental humano. O experimento social de dividir os grupos em dois: VIP e Xepa, tendo um sistema financeiro de estalecas, descontadas a cada desvio das regras do programa, gera uma série de respostas dos participantes. Estes entram em discussões, formam alianças e escolhem o voto da semana com base em “afinidades”. A indústria do entretenimento descobriu então que a obra distópica de George Orwell poderia se tornar extremamente lucrativa, pois seres humanos sempre apreciaram ver seres humanos em condições limite.
Nesta última edição, que acabou com a vitória histórica de Thelma, uma mulher negra e médica, a produção escolheu colocar dentro da casa junto com os desconhecidos de praxe, influencers e famosos, com uma base sólida de fãs fora da casa.
Isso fez com que a dinâmica como um todo fosse alterada, pois dentro da casa estavam pessoas com uma reputação externa e com relacionamentos trazidos dela. Vimos então que, diferente do BBB1, de 2002, onde os participantes pensavam apenas em se divertir e sofriam pouquíssimas consequências para suas atitudes machistas, racistas e etc., o BBB20 colocou nos holofotes participantes que entraram no jogo dispostos a interpretar personagens com movimentos friamente calculados em frente às câmeras, para sair bem na edição.
Não deu muito certo. Hoje em dia, o programa depende das redes sociais, que se tornou o Grande Irmão da nossa geração. Os pequenos resumos exibidos na televisão, em horário nobre, não são mais predominantes e decisivos na opinião do público.
O trunfo do BBB20
O grande trunfo involuntário desta edição foi juntar esses famosos em um momento de quarentena no país do futebol, em que o futebol foi cancelado. O lugar mais seguro para se estar, era no BBB e era vendo o BBB, de casa.
Tanto é verdade que a edição foi dona de um paredão, estrelado por Manu Gavassi e Felipe Prior, que entrou no Guinness Book por número de votos em reality show. Tivemos a parte mais maluca de todo o programa, quando Bruna Marquezine estava angariando votos de um lado e Neymar, sem poder jogar, angariava de outro.
Que louco seria se George Orwell pudesse sentar no sofá numa terça à noite e ver a eliminação, com o participante escolhido chorando copiosamente por querer ficar. Talvez ele pensasse em uma síndrome de Estocolmo, ou apenas no que o capitalismo é capaz de fazer.
No mundo de 1984, a eliminação aconteceria de forma bem diferente.
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